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Com discurso político correndo nas veias de forma hereditária, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), prestigiou nesta segunda-feira (16), o início do tombamento do acervo de seu avô e ex-governador Miguel Arraes, no Poço da Panela, Zona Norte do Recife, onde o político morava. Rodeado de amigos, políticos e familiares como a viúva Madalena Arraes, o socialista relembrou os trabalhos realizados por Arraes, emocionou-se assim como sua prima e Secretária de Juventude e Qualificação Profissional da Prefeitura do Recife, Marília Arraes, e mostrou o desejo de fazer política de outra maneira.
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O irmão do governador e presidente do Instituto Miguel Arraes, Antônio Arraes, descreveu a influência do avô. “Arraes foi um dos que primeiro denunciou no exterior o início das grandes torturas no país. Ele foi à testemunha viva da operação Condor que eliminou diversos líderes de esquerda do Brasil e do exterior. Arraes sobreviveu há mais de dez tentativas de assassinatos, ele teve mais de dez conversas com Fidel Castro, conheceu dos coronéis do Sertão do Francisco a três vezes pessoalmente, Padre Cícero”, relatou o neto.
Também enaltecendo os trabalhos do avô, Eduardo Campos brincou relembrando das reuniões a portas fechadas que sempre Pedro Eurico deixava vazar algumas coisas, emocionou-se quando o poeta Antonio Marinho recitou alguns poemas, e frisou a parte política reforçando seu desejo de ser candidato em 2014 comentando em seguida o aniversário de Arraes que deveria ser comemorado nesse domingo (15), caso estivesse vivo.
“Comemorar o aniversário de meu avô com vocês é uma alegria e emoção muito grande, e a certeza que nós vamos saber cuidar não só desta memória, mas, mais do que a memória, é cuidar desses valores que ele representou na vida brasileira, e poder levar esses valores para a construção de uma sociedade bem diferente desta que a gente vive aqui”, pontuou, dando os parabéns à ‘Mada’ como chama Madalena que também fez aniversário no último dia 14.
O governador relembrou ainda a importância de disponibilizar os documentos de Arraes para pesquisas, e contou um encontro casual que teve no exterior com um embaixador, em que recebeu alguns documentos da participação de Miguel Arraes em denúncias sobre a Ditadura Militar. “Foi ele quem fez a denúncia no Tribunal de empresas e do governo autoritário na ação repressiva, às empresas com sede na Europa, para alertar a sociedade europeia do que estava acontecendo naquele momento”, relatou Campos.
Para a viúva de Arraes, Madalena Arraes, o ato representa um reconhecimento amplo dos trabalhos do ex-governador por parte do Estado. “É um trabalho que está sendo feito aqui de preservação de memória com toda a documentação do que ele fez e é significativo com a quantidade de documentos disponível para pesquisas”, disse ressaltando ser importante também para as investigações dos crimes políticos da época da Ditadura. “É muito importante, por isso tem que ser preservado”, completou.
Acervo – Na residência onde morou o ex-governador, local onde funciona o Instituo Miguel Arraes, é possível lembrar a memória física deixada por ele, como por exemplo: 270 mil itens formados a partir da década de 30, quando Arraes entrou no serviço público e passou a arquivar livros, documentos e correspondências relacionadas à sua atividade.
O acervo é composto por correspondências, livros, jornais, revistas, manuscritos, fotografias, filmes, DVDs, CDs, estudos sobre os mais variados assuntos, teses, monografias, entre outros documentos que registram a trajetória política de Miguel Arraes, dentro de um contexto regional e nacional e entre esses documentos alguns são inéditos.
Tombamento - O documento que pede a abertura do processo de tombamento foi enviado pelo Instituto Miguel Arraes, que é detentor do acervo e pede pelo seu tombamento. Todo o acervo encontra-se devidamente guardado e catalogado. Entre eles, há 86 mil cartas que foram produzidas durante o exílio de Arraes e que contêm análises da situação política do Brasil.
Segundo o secretário de Cultura, Marcelo Canuto, membros da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) irão analisar os materiais do acervo e posteriormente produzir um laudo. “Qual a importância dos filmes, das cartas (...) isso aí será catalogado tudo em um laudo e depois, será levado ao Conselho Estadual de Cultura e o Conselho aprovando, entregará ao governador para fazer o decreto definido”, explicou, acrescentando que o processo levará alguns meses por ser um trabalho técnico, porém, o cuidado com os pertences permanece com a família, sendo esta obrigada a vender apenas para o Estado, caso assim queira.
O processo de tombamento é o pontapé inicial das comemorações do centenário de Miguel Arraes que será comemorado em 2016