Tópicos | superlotação

Foi inaugurada, na manhã desta sexta-feira (15), a primeira unidade do Centro Integrado de Ressocialização (CIR) de Itaquitinga, prisão mais moderna no Estado, localizada na Mata Norte pernambucana. Incapaz de solucionar o crítico problema da superlotação no Estado, que cresce em torno de 200 detentos por mês, a unidade quer ao menos agir como modelo de boa gestão e ressocialização. E o governo garantiu e repetiu durante toda a manhã de cerimônia: a capacidade máxima de presos será respeitada.

O CIR, mesmo só sendo inaugurado agora, já viveu uma verdadeira novela. As obras deveriam ter começado em 2009, mas isso só ocorreu em 2010. Em 2012, as obras foram paralisadas. Só em março de 2016, o governo decretou a caducidade do contrato de Parceria Público Privada (PPP), alegando que a empresa responsável pela construção faliu. Foram investidos R$ 10 milhões para a conclusão da primeira unidade.

##RECOMENDA##

A estrutura possui uma área construída de 1000 m², contando com pavilhão para os presos que exercem atividades laborais, 12 salas de aula - as aulas só devem começar em 2019 -, áreas jurídicas e de saúde, refeitório, instalações para a Polícia Militar e oito guaritas. Algumas salas ainda acumulam equipamentos e carecem de organização. As celas não possuem tomadas, não há sinal de celular no local e os sistemas como chuveiro e torneira são embutidos. Na área ambulatorial, há um espaço para banho de sonho de detentos doentes.

[@#galeria#@]

“Não vai mais haver isso de presos circulando dentro das muralhas, sem roupa adequada. Vão ficar recolhidos em suas celas, saindo para a hora da refeição, escola, atividade laboral e banho de sol. Tudo isso dentro da unidade fechada. Não temos muralha, temos alambrado porque os presos não vão sair”, disse o secretário de Justiça e Direitos Humanos, Pedro Eurico. O secretário continua: “Não haverá superlotação. Também não haverá a cultura do chaveiro [preso que tem as chaves das celas e controla o circular dos demais], nem presos portando, brincando com armas. Isso acabou”. A unidade terá a direção de Nickson Monteiro, que está ligado à secretaria há 24 anos, tendo ocupado o cargo de vice-diretor da Penitenciária Barreto Campelo entre 1994 e 1998.

Na próxima segunda-feira (18) devem chegar os primeiros 50 presos oriundos da Penitenciária Barreto Campelo e do Complexo Prisional do Curado. De acordo com o secretário executivo de Ressocialização, Cícero Rodrigues, os primeiros detentos a chegar mostram uma maior capacidade de conseguirem ser ressocializados e estarão perto de progredir para o regime semiaberto. A unidade deverá alcançar sua capacidade máxima de mil presos em julho deste ano. A conclusão da obra foi confirmada pelo governador Paulo Câmara (PSB) ainda em janeiro deste ano. Na ocasião, Pedro Eurico garantiu que o presídio seria ocupado imediatamente, o que não ocorreu. “Tivemos que fazer ajuste no processo construtivo e na questão do monitoramento eletrônico. Tudo isso demanda tempo. No estado as coisas não podem ser resolvidas de forma simples. Tudo tem processo licitatório”, ele se justificou nesta sexta-feira.

Cozinha

Ao todo, 22 presos concessionados, do regime semiaberto, serão responsáveis pela alimentação dos detentos do CIR, sendo 8 trabalhando na padaria e 14 na cozinha. Os presos terão café da manhã, almoço e janta com cardápio variado, tendo dias com frango, feijoada, carne bovina e carne moída.

O local da cozinha é espaçoso. Segundo Pedro Eurico, na época da PPP ele foi pensado para ser escola de formação para cozinha até de jovens da região. O secretário não descarta retomar a ideia.

Segurança

Pedro Eurico também destaca que não haverá revista vexatória aos parentes dos presos. Os familiares terão um cadastro com biometria para passar pelas catracas da entrada. Além disso, eles passarão por um body scan, equipamento de revista que custa R$ 700 mil. Atualmente Pernambuco tem sete desses equipamentos e mais quatro devem chegar.

O Presídio de Itaquitinga tem a sala de monitoramento mais moderna do sistema prisional de Pernambuco. São 126 câmeras, com boa capacidade de zoom, gerenciadas por agentes penitenciários.

Parcerias

Apesar do fracasso da PPP, o sonho da parceria privada não cessou. O que a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos quer agora é que empresas se instalem na unidade, oferecendo trabalho para os reclusos. “As empresas têm vantagem. Não pagam obrigação social, não recolhem FGTS, nem 13º salário, vale transporte ou férias. O preso recebe pela jornada de oito horas um salário mínimo”, explica Pedro Eurico. O governo diz já estar conversando com algumas companhias.

Agentes penitenciários

Nesta mesma manhã, o presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários (Sindasp), João Carvalho, criticou a realocação dos agentes para o Presídio de Itaquitinga. “No lugar de ter alocado pessoal de concurso, o Estado retirou de unidades já fragilizadas e com déficit, provocando, assim, transtornos à segurança de serviços nas outras unidades prisionais. Vocês já estão sabendo dos motivos se acontecerem problemas em outras unidades por fugas ou motins e rebelião”, afirmou Carvalho. Foram realocados 49 profissionais.

 

Pedro Eurico criticou o líder do sindicato e rebateu as acusações. “Nós temos 23 unidades penitenciárias. Fizemos um remanejamento absolutamente criterioso. João Carvalho não tem preocupação com o sistema prisional. Por outro lado, estamos concluindo um concurso para novos agentes. Dois anos atrás, convocamos 200 assistentes de ressocialização para dar suporte na unidade prisional”, rebateu. O concurso deve ser concluído até dezembro de 2018 e formar 340 agentes. 

 

Em visita ao Hospital Agamenon Magalhães, situado na Estrada do Arraial, Casa Amarela, Zona Norte do Recife, o Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) registrou um verdadeiro caos. Enfermos amontoados pelos corredores, sem maca, em locais improvisados, tudo num ambiente propício a proliferação de bactérias e sem nenhum conforto mínimo. A blitz aconteceu no último dia 17 de maio, às 8h da manhã, onde foi constatado também uma escala deficitária de profissionais da saúde. 

Tadeu Alencar, presidente do Simepe, afirmou ter ficado estarrecido com o que classificou como cenário de horror. "São pacientes no chão, em banheiros, a céu aberto, com goteiras pingando em pacientes que estão por todas as partes. É um local de verdadeiro horror que fere o mínimo da dignidade humana", denunciou Tadeu.

##RECOMENDA##

O sindicato diz que existe a construção de um prédio que está parada há anos, tendo sido iniciada para ampliar a unidade de saúde e sua capacidade de atendimento, mas que não foi concluída. Sobre a superlotação do hospital, Tadeu Alencar ressalta que "existem pacientes no local que poderiam estar sendo atendidos em hospitais de menor complexidade, mas continuam superlotando a emergência do Agamenon".

Em campanha, o sindicato exclama que "precisa um basta e um maior investimento na atenção primária, na saúde dos municípios e dos Estados e mais profissionais para atender as demandas". 

[@#video#@]

O que diz a Secretaria de Saúde do Estado

 

Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde informou que reconhece a grande demanda nas emergências do serviço. "No entanto, o Hospital Agamenon Magalhães segue cumprindo o seu papel de prestar assistência com prioridade para casos mais graves". A secretaria reforça ainda que o aumento da procura por atendimentos na unidade da-se por conta das perdas do plano de saúde de parte da população; pela localização geográfica da unidade. "Ao contrário da afirmação do Sindicato, a unidade está abastecida de insumos, com a maioria das escalas de profissionais completas e não há acomodação de pacientes em banheiros, nem no chão". 

Foto enviada pelo Simepe mostra uma maca dentro do banheiro do Agamenon Magalhães

Sobre parte dos pacientes estarem a céu aberto, a diretoria da unidade confirmou que "a equipe de engenharia da unidade atua de forma rotineira na prevenção de danos estruturais e está trabalhando para eliminar os pontos de infiltração em alguns espaços do hospital, provenientes das chuvas ocorridas nas últimas semanas", destaca.

Por fim, sobre a rede de assistência cardiológica em Pernambuco, a Secretaria Estadual de Saúde esclarece que, até 2010, apenas o Procape e o Hospital Agamenon Magalhães (HAM) realizavam esse tipo de atendimento. "Desde então, os serviços cardiológicos foram ampliados em mais de 150%. Com o reforço de outros hospitais como Dom Helder Câmara, Cabo de Santo Agostinho, Pelópidas Silveira, às margens da BR-232 e o Hospital Mestre Vitalino, localizado em Caruaru".

A Pastoral Carcerária de Pernambuco está denunciando uma série de problemas identificados no Presídio Desembargador Augusto Duque (PDAD), em Pesqueira, no Agreste de Pernambuco. Um relatório apontando as violações foi enviado para órgãos como a Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres), Defensoria Pública e Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE).

Os integrantes da pastoral visitaram a unidade prisional em outubro e novembro. Eles encontraram 974 presos em uma unidade que tem capacidade para 144 pessoas. A superlotação era de 676%, maior que a média nacional que em dezembro de 2017 estava em 197,8%.

##RECOMENDA##

O que mais chamou a atenção do coordenador estadual da Pastoral Carcerária, Valdemiro Cruz, foi a água utilizada para consumo e higiene. "A água é de péssima qualidade, tem um cheiro péssimo e cor amarela", contou ao LeiaJá. Ele continua: "Também tem muito lixo, o que atrai moscas. A parte traseira, perto da cozinha, é infestada de moscas. A estrutura jurídica também não acompanha os processos, então os presos sofrem porque não há progressão, não tomam conhecimento de como anda seu caso, as audiências são adiadas por falta de escolta. A pessoa presa já está numa situação humilhante, aí em uma situação dessa se torna uma tortura".

A Pastoral Carcerária encontrou uma cela que tinha capacidade para nove pessoas sendo ocupada por 34. Presos relataram que dormem nos degraus das escadarias que levam do térreo para o primeiro andar e para o seguinte. "Eu digo que é uma bomba de efeito retardado. Há uma tensão muito grande e o presídio é controlado por carcereiros, que ocupam essa posição por amizade com os diretores ou por terem mais violência", complementa Cruz.

O coordenador da Pastoral percebe que quando eles fazem relatórios como esse e divulgam o caso acabando criando uma instabilidade. "A gente sente que isso não é bem aceito, pessoal acha que a gente está fazendo mais do que deveria fazer, não querem que chegue à imprensa. Às vezes a realidade é tão cruel que a gente luta pela forma mais humanística e cristã de lidar com as pessoas", explica.

Mutirão -  O relatório foi entregue ainda no começo do ano para os órgãos, mas poucas medidas foram tomadas. Alguns detentos foram transferidos para a Penitenciária de Tacaimbó, também no Agreste. Atualmente, há cerca de 930 reclusos na unidade de Pesqueira.

A Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres) também divulgou um mutirão. Da quarta-feira (25) até sexta-feira (27), será realizado o mutirão carcerário no Presídio de Pesqueira. O objetivo é ofertar benefícios como habeas corpus, livramento condicional, progressão de regime, extinção de pena e remição de pena.

Durante o mutirão, 12 profissionais da área jurídica avaliarão as pastas carcerária e tentarão dar maior agilidade no andamento dos processos. Serão cinco advogados da Seres, quatro defensores e três assessores técnicos da União. Em janeiro, o mutirão foi realizado na Colônia Penal Feminina do Recife, na Zona Oeste da capital.  

É sexta-feira a noite e a medida que os ponteiros do relógio informam que a madrugada se aproxima, a disputa por uma cadeira e ao menos um lugar no canto da parede aumenta. No saguão principal da ‘sala de espera’ da Emergência Traumatológica do Hospital da Restauração (HR), no bairro do Derby, região central do Recife, colchões são improvisados com lençóis e papelões. As malas e mochilas servem de travesseiro. Enquanto aguardam por notícias dos pacientes, as pessoas compartilham histórias, insatisfações e solidariedade com a situação do outro. Nem a exibição do capítulo final da novela global ‘A Força do Querer’, em uma televisão que fica em frente às poltronas, distrai os acompanhantes e torna a espera menos angustiante.

##RECOMENDA##

A sala não comporta a quantidade de gente necessitada de estar alí. São pessoas pelo chão, na maioria vindas do interior de Pernambuco para buscar atendimento na unidade de saúde. A emergência do HR é referência em politraumatismo e traumas neurológicos, de maior complexidade em geral do Norte/Nordeste. Também é a maior unidade da rede de saúde pública do estado.

Na rampa principal de acesso ao hospital, a movimentação das ambulâncias é constante e as sirenes alertam que mais um paciente está chegando ou sendo transferido da unidade. Veículos da Polícia Militar também transitam pela entrada principal do prédio. Pacientes e acompanhantes costumam comentar a grande presença de policiais e seguranças particulares do hospital. "São mais  vistos do que os próprios médicos", brincam. Um posto oficial da Polícia Civil também fica na sala de espera da emergência. Um dos profissionais do HR explica que por causa da demanda alta de presidiários e custodiados é constante a presença dos PMs.

Mulher decidiu dormir na rampa de acesso ao Hospital da Restauração

Após passar pela porta principal da sala de espera, uma placa amarela de “cuidado, piso molhado” indica aos que passam por lá a presença de uma infiltração no teto do local. Entre uma hora e outra, uma mulher dos serviços gerais faz a limpeza do chão cheio de água. Olhos atentos, conversas no telefone e impaciência. Na porta que dá acesso à Emergência de traumatologia, um segurança faz o controle de quem pode entrar no local. Mas, com a intensa movimentação no plantão, algumas pessoas conseguem acessar o corredor, sem a percepção dos funcionários, em busca de mais informações de seus familiares.

De acordo com as regras do local, o acolhimento do paciente é elencado por uma classificação de risco. Após uma triagem, eles são destinados a uma das cinco áreas do hospital. Na ala vermelha, a mais grave, o atendimento é imediato. Para lá, geralmente são levados os casos mais graves, como acidentes automobilísticos, tiros e facadas. Na laranja, o atendimento é feito em até dez minutos. Amarela, uma hora, e na verde em até duas horas. Os casos considerados menos graves são encaminhados para à ala azul e a estimativa é de quatro horas.

[@#galeria#@]

Há cinco dias residindo de forma temporária no hospital, a dona de casa Márcia* - preferiu dizer apenas o primeiro nome - diz que acompanha o seu marido, internado na unidade de saúde após ser transferido da UPA de Dois Unidos, na Zona Norte do Recife, com uma tuberculose na coluna. Sem condições de ir e voltar de sua casa por não ter dinheiro para a passagem de ônibus, ela permanece nos corredores do hospital e quer a saída do companheiro do ‘ala vermelha’. “O caso dele não é tão grave assim e nesse local é onde acontece a maior disseminação de bactérias. Tenho medo de perdê-lo por causa da falta de higiene do hospital”, afirma.

Cenas teimam em se repetir

Por volta da meia-noite, a reportagem teve acesso a imagens da parte interna do HR. Do lado de dentro, ainda mais precariedade. Atendimentos feitos de forma improvisada em macas encostadas nas paredes do corredor. Falta higiene, profissionais da saúde e acompanhantes muitas vezes fazem o papel dos enfermeiros. Como não há vagas para todos os necessitados, macas são improvisadas e servem de leitos pelos corredores. Os quartos estão cheios e a UTI de traumatologia superlotada.

O cenário é de um hospital saturado. O HR possui 482 leitos registrados no Ministério da Saúde, mas somados os extras para atender a demanda de pacientes, funciona com um total de 723 leitos. A média mensal é de 2,2 mil internações, 800 cirurgias, 10 mil atendimentos emergenciais e 13 mil ambulatoriais. Para dar conta do alto número, são apenas 3,5 mil funcionários. De acordo com uma enfermeira que trabalha na unidade de saúde há quase 30 anos, em um dia de plantão agitado, a emergência recebe cerca de 600 pacientes em uma noite. Ela diz que a média é de um médico para 100 pessoas.

“O hospital é muito agitado. Mas eu já me acostumei com essa rotina. Mesmo com a unidade lotada, a gente recebe os pacientes, mesmo que depois a gente consiga transferi-los para outros centros médicos. Tentamos da melhor forma dar a assistência, mas a família muitas vezes chega estressada por causa da situação de gravidade do acidentado. O estado deveria investir em mais hospitais da rede pública porque só o HR não dá conta de Pernambuco”, diz a enfermeira.

[@#video#@]

Já são duas da manhã e sentada do lado de fora da Emergência de Traumatologia, Aldevania Maria, 39, fuma um cigarro para aliviar o estresse e amenizar as preocupações com a sua irmã, internada no HR há um mês. Ela veio de Caruaru, no Agreste de Pernambuco, para tratar da parente no Recife porque o hospital da cidade não tinha estrutura. “Minha irmã teve um AVC e foi descoberto que ela tinha cinco aneurismas na cabeça”. Sem condições de ficar de forma ininterrupta no HR, ela reveza as semanas com o restante de sua família. “Se ela tivesse ficado em Caruaru tinha morrido”, diz.

Aldevania lamenta a falta de estrutura a área da saúde no interior de Pernambuco

Aldevania pontua que apesar da superlotação e dos inúmeros problemas da Restauração, o centro é referência e sua irmã tem sido bem assistida. Mas, para ela que acompanha a irmã, a situação é desumana. “Não há suporte para os acompanhantes. A gente se vira no chão, no cantinho pega um assento sai e perde de novo. A vaga é de quem chegar. Não tem nem água. Para lanchar ou almoçar, a gente vai em alguma barraquinha mais barata e compra com nosso próprio dinheiro”, lamenta.

Ela também critica a falta de cuidado em dar notícias aos familiares. Diz não haver preocupação, nem estrutura do hospital. “Hoje chegou uma senhora desesperada. Ela não estava acompanhando o marido, mas pressentiu em casa o seu falecimento. Quando chegou aqui, descobriu que ele já tinha morrido. E o hospital nem se preocupou em dar a notícia antes, ela preciso vir até aqui e tomar esse choque”, denuncia Aldevania.

Adriana, 46, veio de Lajedo, também no agreste. Ela recebe um dinheiro para ser cuidadora de um idoso de 87 anos que veio amputar uma das pernas. Ela dorme na unidade de saúde há três dias e lamenta a falta de humanidade dos seguranças do HR. “É injusto a gente não poder se encostar um pouquinho nas paredes. Somos de carne e osso. Será que esse pessoal não tem família? Estamos cansados e não tem onde sentar, sao poucas cadeiras. Não pode deitar um pouco pra descansar umas horas? O corpo é fraco”, conta a cuidadora.

Faltam luvas, macas e uma série de equipamentos médicos

Enquanto descansava no horário de intervalo e fazia um lanche em uma barraquinha improvisada na rampa do HR, já que o comércio formalizado fecha às 0h, uma técnica de enfermagem, que também preferiu não se identificar por medo de retaliações da direção da unidade de saúde, denunciou a falta de equipamentos básicos. Colchões, luvas para procedimento médico e capotes são alguns deles. “A gente usa uma e tenta reaproveitar. Isso é um perigo porque a bactéria se prolifera. É um risco de contaminação”, revela. Para ela, o HR não dá conta da alta demanda e deveria ser exclusivamente um centro de alta complexidade.

“Mas porque as UPAs não dão uma assistência melhor, os casos acabam vindo pra cá e isso superlota o local. Aqui não tem vaga. A gente tem pacientes da UTI que já eram pra ter alta. Mas, os andares não tem vaga e aí eles acabam ficando lá. Correm um risco porque na UTI tem bactérias resistentes”, destaca.

Procurada para esclarecer a falta de materiais de trabalho e a superlotação do HR, a Secretaria Estadual de Saúde informou que reconhece a alta demanda de pacientes em sua unidade, principalmente devido à epidemia de acidentados de trânsito.

"Mesmo assim, a unidade reforça seu compromisso com o atendimento aos usuários do SUS. A direção ainda reforça que a unidade está devidamente abastecida com os insumos médico-hospitalares e que não procedem as informações sobre falta de material básico (luvas, gazes, fraldas etc) e que tem adquirido novas macas para o atendimento hospitalar. O Hospital da Restauração é uma unidade referência para atender casos de queimaduras graves, intoxicação exógena e por animais peçonhentos, vítimas de violência – agressões por arma de fogo e arma branca - e acidentes de trânsito, atraindo pessoas de todo o Nordeste", diz um trecho da nota. 

O Complexo Integrado de Ressocialização de Itaquitinga, na Mata Norte de Pernambuco, tem sido aguardado há muito tempo e com muita expectativa, porque auxiliará o sistema carcerário do Estado. Porém, o Complexo passa longe de ser uma solução. Para Pernambuco resolver o problema da superlotação, precisariam ser construídos 38 presídios imediatamente.

A coordernadora de reforma penitenciária do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) no Panamá, María Noel Rodrígues, fala ao LeiaJá que em alguns países considera-se que o número de presos por unidade prisional não pode exceder 500. O Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) sugerem também o número de 500 vagas por presídios. Conclui-se, ao fazer os cálculos, que se Pernambuco quisesse se adequar às recomendações, obedecendo a quantidade limite das unidades, precisaria construir mais 38 unidades prisionais além das 22 que já existem. 

##RECOMENDA##

Partindo dessa análise, o problema de Pernambuco começa antes da construção do presídio. Por exemplo, o já citado Complexo Integrado de Ressocialização de Itaquitinga, na Mata Norte de Pernambuco, que está em construção, é dividido em duas unidades, cada uma com capacidade para mil presos. O LeiaJá perguntou à Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres) em que estudo se baseava a construção de presídios com capacidade para mil presos, mas a pasta respondeu apenas que:

A Secretaria Executiva de Ressocialização visa, com a construção das novas vagas, a reduzir a superlotação nas unidades prisionais da Região Metropolitana do Recife.

Além de Itaquitinga, o Estado trabalha na construção de novo presídio da Cidade de Palmares, na Mata Sul, com 600 presos; e do Complexo Prisional de Araçoiaba, na Região Metropolitana do Recife, com 2574 vagas. Também está em fase de conclusão a recuperação da cadeia pública de Garanhuns, que disponibilizará mais 200 vagas.

Atualmente, Pernambuco tem 10841 vagas. Com todas essas novas aberturas, o Estado vai alcançar a capacidade de abrigar 16215 presos. Apesar das obras serem sempre anunciadas com pompas, elas passarão longe de resolver a superlotação, porque até a última segunda-feira (9) Pernambuco tinha 30285 presidiários.

O Manual de Diretrizes Básicas para Construção, Ampliação e Reforma dos Estabelecimentos Penais do Ministério da Justiça, lançado em 2005, orienta o número máximo de 800 presos em penitenciárias de segurança média ou máxima. Especialistas da área também consideram 800 como o número máximo possível para que o Estado consiga manter o controle da unidade. Mesmo se a conta fosse feita com esse número, Pernambuco estaria longe do ideal, precisando levantar novos 15 presídios.

“O que sempre insistimos é que os estabelecimentos devam ter uma capacidade e um tamanho que lhes permitam ser gerenciados de forma humana e eficiente. Quanto maior o tamanho, menor a dimensão humana”, diz María Noel Rodrígues. A coordenadora do UNODC compreende as dificuldades dos países e explica que, na prática, o tamanho e a capacidade dependerão das necessidades, pessoal disponível, tecnologia, perfil populacional e possibilidades econômicas. “Por razões de economia de escala, é muito difícil construir centros para 500 pessoas, razão pela qual centros maiores estão sendo construídos. O que é central é que os centros com uma capacidade superior a 500 sejam gerenciados em módulos menores. O que devemos evitar são os megacárceres de 4 mil ou 5 mil que, em sua operação, são muito mais difíceis de gerenciar”, complementa.

Problema número 2: agentes penitenciários

Uma resolução de 2009 do CNPCP, órgão subordinado ao Ministério da Justiça, determina que o Departamento Penitenciário Nacional, ao analisar os projetos para construção de estabelecimentos penais, exija a proporção mínima de cinco presos por agente penitenciário.

A realidade, mais uma vez, passa distante do que pedem os órgãos. Há 1503 agentes penitenciários em Pernambuco, conforme o Sindicato dos Agentes Penitenciários (Sindasp). O número equivale a um agente penitenciário para 20 presos.

“No ano 2000, existiam oito mil presos para 1075 agentes penitenciários e lá, naquela época, eram 12 unidades. Hoje temos 22 unidades e 56 cadeias públicas. O estado aumentou muito a quantidade de unidades e só conseguimos mais 500 agentes. Era para colocar mais dois mil agentes no mínimo, para ficar com a proporção do ano 2000”, calcula João Carvalho, presidente do Sindasp. Um certame para a contratação de 85 agentes penitenciários foi feito neste ano. Um projeto de lei estadual também busca aumentar o quantitativo de vagas para agentes. 

[@#video#@]

“Eu já fiz várias recomendações para que as unidades prisionais mantenham quantidade de presos no estrito número da sua capacidade e que, quando acontecesse uma coisa diferente e a unidade ultrapasse a capacidade, um mutirão fosse feito para adiantar a progressão de pena dos presos mais próximos de recebê-la”, diz o promotor Marcellus Ugiette, da Vara de Execuções Penais, famoso pelo seu posicionamento pelo desencarceramento. Para Ugiette, falta às diversas instâncias o interesse em trabalhar alternativas penais.

O promotor defende que as unidades prisionais sejam cada vez menores, para que o Estado consiga geri-las. “Não adianta uma grande unidade prisional, com três mil vagas, se você não toma conta dos presos. Essa volúpia de construir unidades prisionais, não só em Pernambuco, de querer dinheiro… mas para quê? Para fazer um novo Complexo do Curado, um presídio sem agente penitenciário, com controle de chaveiros e lideranças criminosas agindo de dentro?”, ele questiona. 

Ugiette recomendou que o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) só liberasse dinheiro para presídios quando o governo apresentasse projeto geográfico, com planejamento de pessoal, como agentes penitenciários e técnicos. Perguntado sobre por que sua recomendação não foi acatada ainda, respondeu: “Isso está sendo discutido. Na verdade, talvez a questão política seja maior do que a racionalidade”.

A Penitenciária de Tacaimbó, no Agreste de Pernambuco, é citada como exemplo. Com 675 vagas, a unidade possui apenas 197 reclusos. “Está assim porque não tem agentes, não tem técnicos, não tem nada. Esses que estão lá, estão fazendo gambiarra. São aqueles que foram retirados das unidades prisionais. Vi coronéis ligando, falando com diretores de presídios e perguntando se não podiam dar um ou dois agentes para Tacaimbó. Não há planejamento”, finaliza.

Sistema Semiaberto Humanizado

No final do mês de outubro, entre 30 a 40 presos do regime semiaberto da Penitenciária Agroindustrial São João (PAISJ), em Itamaracá, vão ser beneficiados com o Sistema Semiaberto Humanizado, tendo direito à prisão domiciliar sob monitoramento eletrônico. O projeto já foi feito no mês de setembro na Colônia Penal Feminina de Abreu e Lima (CPFAL). Atualmente, a PAISJ tem 2772 detentos ocupando 749 vagas. 

As unidades penitenciárias do Piauí estão sofrendo com um surto de escabiose, patologia conhecida popularmente como sarna. Em um dos presídios mais atingidos, Esperantina, até o diretor da unidade contraiu a doença. A superlotação das unidades e a falta de higiene são as principal suspeitas de impulsionar o número de casos. 

Segundo números oficiais, 1620 presos contraíram a sarna, um total de 39% da população carcerária piauiense, composta de 4100 presos – o Estado possui apenas 2230 vagas. O Sindicato dos Agentes Penitenciários do Piauí (Sinpoljuspi) contabiliza 98% da população carcerária infectada. “A secretaria [de Justiça] se baseia apenas naqueles em que foi detectada a sarna de forma externa, só que quando o detento está infectado ele passa para todos os outros com quem ele tem contato, então todos os presos que estão na carceragem foram atingidos sim”, argumenta o presidente do sindicato, José Roberto.

##RECOMENDA##

O presidente do sindicato conta que os primeiros casos datam de novembro de 2016, mas só em abril houve a explosão de casos. “Já cobramos o tratamento desses presos no ano passado. A Secretaria de Justiça até tentou fazer sua parte, encaminhou um ofício, mas dependia dos medicamentos da Secretaria de Saúde. Apenas após a gente fazer denúncias, procurar os direitos humanos, a Secretaria de Saúde começou a liberar os medicamentos a conta-gotas”, critica. 

A Secretaria de Justiça informou que já está realizando o tratamento dos detentos. De acordo com a pasta, foram adquiridos e distribuídos mil frascos de benzoato e dois mil comprimidos de ivermectina. Mais mil frascos de benzoato foram solicitados para dar continuidade ao tratamento e prevenção.

As penitenciárias que registraram casos de escabiose foram Casa de Custódia, Casas de Detenção de Altos e São Raimundo Nonato, Colônia Agrícola Major César, Irmão Guido e Esperantina – com maior incidência nas duas últimas citadas. Como parte do tratamento, a Secretaria de Justiça afirma que os presídios também estão sendo higienizados e que estão avançando na implementação da Política de Saúde Prisional. Com o fim do período chuvoso, os casos estariam diminuindo.

O Sinpoljuspi não sabe precisar quantos agentes também foram atingidos. “Os detentos querem externar o problema. O agente evita dizer que está com problema por causa do orgulho. Mas em Esperantina, que tem 30 agentes, um terço contraiu a doença, sendo um deles o próprio diretor da unidade”, destaca José Roberto. 

Além de manchas vermelhas, a sarna causa bastante coceira. “A coceira é tão grande que o cara não consegue tirar um minuto de cochilo. No período noturno é que é pior, que é o período de reprodução do ácaro. Os presos estão passando por uma vida de cão. Eles não vão sair melhor do que entraram”, conclui o presidente do sindicato. 

“As prisões hoje em dia são superlotadas. Cada cela é feita para doze pessoas, porém colocam de 30 a 40”. Assim o pedreiro Cristiano Marcelino, de 38 anos, define a situação carcerária atual. Ele cumpriu pena por sete anos na penitenciária José Parada Neto, que tem capacidade para 838 presos mas atualmente abriga 2.120. A situação se repete nos outros presídios de Guarulhos. Segundo dados da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) do estado de São Paulo, as quatro unidades prisionais do município estão operando acima de sua capacidade, para abrigar uma população carcerária de mais de 6 mil pessoas.

O agente penitenciário Edmilson Alves, que trabalha no Centro de Detenção Provisória 2 de Guarulhos, vê de perto a situação. “A população normal seria 768 presos, mas tem em média 1,8 mil a 2 mil presos”, conta.

##RECOMENDA##

O Artigo 5º da Declaração Universal dos Direitos Humanos prevê que ninguém será submetido a tortura nem a punição ou tratamento cruéis, desumanos ou degradantes. No entanto, quem já passou pelo sistema carcerário sabe que a situação está longe do ideal. “Em uma cela com quatro camas havia cinco menores. Tínhamos que revezar, cada dia um dormia sobre uma mesa que havia no centro da cela”, conta Leonardo da Silva Ribeiro, de 18 anos.  Aos 17 anos de idade, Leonardo foi apreendido e passou 45 dias na Fundação Casa, no bairro Aracília.

Não são apenas os presidiários que sofrem. Mães e esposas também enfrentam situações difíceis ao visitar seus filhos e maridos. Leonardo afirma que não queria que sua mãe fosse visitá-lo enquanto esteve internado. “Eu sabia que minha mãe não merecia passar por aquela situação de se despir e se agachar na revista para me visitar. Eu não queria que ela fosse, mas ela foi mesmo sem meu consentimento”, explica.

“O sofrimento e a preocupação já começavam em casa, quando começava a preparação dos alimentos, e aumentava quando chegava na fila para a revista. Uma espera de quatro horas numa fila enorme, para uma revista que considero uma humilhação”, relata Débora Aparecida Jesus Marcelino, 35 anos, esposa de Cristiano Marcelino.

No ano de 2015, o Ministério da Justiça divulgou dados mostrando que o Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo. Os casos de rebelião em presídios que explodiram no início do ano em oito estados do país trouxeram à tona a grave crise do sistema penitenciário brasileiro.  

 “Na minha opinião, as penitenciárias deveriam ser estruturadas com bons cursos de capacitação para que o preso pudesse se sentir valorizado e assim se tornar uma pessoa melhor”, diz o agente Edmilson Alves. 

 

Por Caroline Maria Novais de Jesus e Celso Gomes de Farias Junior

 

 

Uma das rebeliões mais chocantes da história desde o Carandiru. Essa pode ser a definição para o massacre de 60 presos, ocorrido em Manaus, após uma rebelião que durou menos de 1 dia. A culpa do episódio é atribuída a uma guerra entre facções dentro da própria penitenciária, que tinha capacidade para 454 detentos, mas abrigava 1.224 pessoas. A resposta veio alguns dias depois em Roraima com a morte de cerca de 35 presos em retaliação ao ocorrido em Manaus.

Infelizmente, o caso de Manaus não foi apenas uma fatalidade, mas, uma consequência da crise no sistema presidiário vivido, há anos, pelo Brasil. O nosso país apresenta uma das maiores taxas de superlotação carcerária do mundo e foi denunciado internacionalmente pelas condições de alguns dos complexos prisionais.

Dados de 2015 ressaltam que há um déficit de 244 mil vagas no sistema penitenciário brasileiro. No total, o Brasil conta com 622.202 presos e destes, 40%, estão em situação provisória, aguardando julgamento. No Piauí, por exemplo, o índice chega a 66%. Há superlotação em todas as unidades da federação. Em média, os presídios estão com 66% de detentos a mais que a capacidade. Em Pernambuco, no entanto, essa taxa chega a 184%.

O pensamento mais rápido para solucionar a crise carcerária seria a construção de novos presídios. Entretanto, não há mais condições de expandir o número de vagas, muito menos na proporção que a demanda sempre crescente requer. Construir novas prisões não é mais uma opção viável, nem economicamente e nem socialmente. Além disso, pensar apenas o encarceramento como política de segurança não irá resultar na redução das taxas de criminalidade.

A realidade é que temos uma cultura da prisão enfatizada e exacerbada. A sociedade, em geral, tende a enxergar a prisão como única resposta à delinquência. Porém, a tendência a longo prazo será mostrar que a liberdade deverá ser preservada, desde que os casos sejam avaliados e ponderados. O que, infelizmente, a lentidão do nosso sistema judiciário não tem permitido.

As cadeias apresentam condições subumanas e não podemos dizer que possuem sistema capaz de proporcionar a regeneração dos internos. As deficiências não são apenas estruturais – não há, inclusive, assistência judicial suficiente para acompanhamento dos processos. Faltam recursos humanos e condições de trabalho nos presídios – em São Paulo, por exemplo, a média é de um agente prisional para 400 detentos.

Um exemplo que pode ser levado em consideração é o sistema prisional do Espirito Santo, que há pouco mais de dez anos também viveu uma situação de caos, com um cenário de superlotação, escassez de agentes penitenciários e falta de um modelo de gestão. O governo do Estado decidiu por investir mais de R$ 450 milhões em um processo de criação das atuais 26 unidades prisionais capixabas, seguindo um modelo arquitetônico padronizado criado nos Estados Unidos em que os detentos não se comunicam e com salas específicas onde os internos participam de oficinas profissionalizantes e recebem atendimento médico. O resultado foi a diminuição da quantidade de fugas, tumultos internos e ainda a dificuldade de organização das facções criminosas dentro das cadeias.

Em outros estados como Alagoas, Goiás e Mato Grosso do Sul, a aposta está em unidades prisionais que investem na ressocialização dos presos. Neste caso, a experiência se baseia em um modelo espanhol. Por lá, os detentos não podem usar entorpecentes e todos trabalham na manutenção da unidade e em empresas conveniadas ao sistema. Ao cumprirem suas penas, os presos são encaminhados para convênios do governo com empresas, para a colocação no mercado de trabalho. O resultado foi a redução de reincidência para 5%.

Claro que esses são modelos pontuais e que também não respondem pela totalidade dos estados em que estão aplicados. Mas, são apostas que tem dado retorno e que, se bem estudadas, podem ajudar a transformar todo o sistema prisional brasileiro. Boas ideias precisam ser disseminadas e apoiadas. Além disso, não podemos esquecer que é preciso um trabalho junto à população com a melhoria da desigualdade social através da educação, saúde, infraestrutura. Essas ações possibilitarão a diminuição da criminalidade e, consequentemente, da população carcerária.

No dia 15 de outubro, o modelo catarinense Paulo Ricardo Evangelista Mantovani, de 28 anos, foi preso no Aeroporto do Recife com 3,3 kg de haxixe em sua mochila, divididos em 120 pacotes. Como foi preso em flagrante, ele passou pela audiência de custódia. Lá, o modelo foi liberado para responder ao processo em liberdade.

A liberação do modelo causou um debate nas redes sociais e nos próprios grupos da imprensa. A Justiça Federal em Pernambuco (JFPE) se manifestou através de nota dizendo que o magistrado que optou pela soltura levou em conta a quantidade de droga transportada, o fato do flagrante haver colaborado com as investigações e a comprovação de que ele possui endereço fixo e profissão definida.

##RECOMENDA##

Apesar de a imprensa ter cobrado a prisão do modelo, o LeiaJá ouviu especialistas que defendiam a opinião de que o acusado realmente deveria ser solto. O que chamava a atenção dos especialistas, na verdade, é que muitas pessoas em situações semelhantes às de Mantovani têm a prisão preventiva decretada. Essas pessoas geralmente são negras, pobres, moradoradas das periferias. No vídeo abaixo, você pode conferir o debate sobre as audiências de custódia, seus indícios de seletividade, preconceito, erros e acertos. 

[@#video#@]

O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Pernambuco (CEDCA-PE) determinou que o Governo do Estado solucione o problema de superlotação da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) de Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife (RMR), no prazo de 30 dias. A solicitação é motivada por uma rebelião ocorrida na unidade no dia 25 de julho deste ano, que resultou na morte de um adolescente e deixou dois feridos.

Publicada no Diário Oficial nesta terça-feira (6), a determinação alega existir a necessidade de adoção de providências urgentes que reduzam a superlotação da unidade. O governo deverá criar um plano de redução do excedente com o objetivo de respeitar aos parâmetros de lotação, infraestrutura e de equipe de agentes socioeducativos.

##RECOMENDA##

A Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude (SDSCJ), que responde pela Funase, informou que a Fundação terá o reforço de unidades que estão em obras. As unidades do Cabo de Santo Agostinho e Jaboatão vão ganhar mais um centro, enquanto as obras do Centro de Internação Provisória (Cenip) do Recife vão ser concluídas.

Com a conclusão das obras, a secretaria espera equacionar a lotação das unidades, incluindo a de Abreu e Lima. Por fim, a secretaria destaca que a resolução do problema da unidade de Abreu e Lima depende da conclusão das obras. 

LeiaJá também

--> A falência da ressocialização de jovens infratores em PE 

--> Adolescente morre após tumulto na Funase de Abreu e Lima 

--> Seis agentes ficam feridos em tumulto na Funase

--> Quatro internos fogem da Funase de Garanhuns

--> Vigília: Grupo acende velas e denuncia morte de internos

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) interceptou um ônibus com capacidade para 44 pessoas transportando 70, na noite da segunda-feira (23), na BR-232, no município de São Caetano, Agreste de Pernambuco. Os passageiros eram universitários que seguiam de São Caetano a Belo Jardim. 

Após pararem o veículo, os agentes também verificaram que o disco do cronotacógrafo, equipamento utilizado para registrar a velocidade do veículo, a distância percorrida e o tempo de direção do motorista estavam em desacordo com o estabelecido pelo Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN).

##RECOMENDA##

Os estudantes precisaram descer do ônibus e aguardar para seguir a viagem em outro veículo. A lotação excedente é uma infração média e prevê multa de R$ 85,13. Já o equipamento em desacordo é uma infração grave, com multa de R$ 127,69. O veículo ficará retido até que se resolva as irregularidades.  

O Complexo Prisional do Curado receberá, nesta quarta-feira (8), membros da Corte Interamericana de Direitos Humanos – braço da Organização dos Estados Americanos (OEA) – para uma vistoria nos presídios do local. A ação é feita após denúncia perpetrada pela Justiça Global, Clínica Internacional de Direitos Humanos da Faculdade de Direito de Harvard, entre outras entidades.

Desde 2011, o Estado brasileiro tem sido processo por problemas que já se tornaram rotinas nas penitenciárias: superlotação, assassinatos, corrupção e outros tipos de violações. Em outubro de 2015, a Corte determinou que o país cumprisse uma série de medidas. A visita em Pernambuco será pioneira no território nacional.

##RECOMENDA##

No início da manhã, representantes da Corte e da Comissão Interamericana de Direitos Humanos estarão reunidos com membros das entidades envolvidas e do estado. Na sequência, haverá a visita ao Complexo Prisional. "O que temos é um cenário no qual as violações não são a exceção, mas sim a regra. Enquanto não houver uma ação do Estado para modificar a situação, continuaremos a ter um sistema punitivista que encarcera cada vez mais e em condições extremamente desumanas e degradantes", criticou Isabel Lima, coordenadora da Justiça Global. 

O fechamento de plataformas na Luz das Linhas 7 e 11 da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) deixou superlotadas, no horário de pico, as plataformas da Estação Barra Funda, na zona oeste da capital na terça-feira (22) Por volta das 18h30, pessoas disputavam um lugar mais perto das portas do metrô. Outras preferiam aguardar a diminuição do movimento em bancos ou sentadas no chão.

Com o incêndio, a técnica de farmácia Aline Moreira, de 24 anos, que mora em Perus, na zona oeste de São Paulo, passou a levar três horas para chegar ao trabalho, nas imediações da Estação Vergueiro do Metrô, trajeto que fazia em uma hora. "Tive de sair de casa às 18 horas. Contando com o tempo de espera nas plataformas e as baldeações, estou demorando três horas para chegar ao trabalho."

##RECOMENDA##

Havia queixas de quem fazia trechos menos longos. "Está mais complicado para voltar para casa. Eu costumo ir para Itaquera pegando o trem na Luz, porque faço o percurso em 25 minutos. De metrô, dá 40", diz a tecnóloga em sistemas elétricos Camila França, de 27 anos.

No Brás, o embarque ocorria sem filas às 18 horas. A dificuldade era como chegar em casa. "Ficou horrível. Trabalho na Paulista e ia para a Luz, pela Linha Amarela, para pegar o trem. Agora, tenho de ir à República, que está lotada, para entrar na Linha Vermelha e pegar o trem no Brás", disse Vanessa Boscolo, de 28 anos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A atual lei de drogas é um dos principais fatores de aumento da população carcerária brasileira nos últimos anos. Promulgada em 2006 para que traficantes tivessem as punições intensificadas e usuários fossem encaminhados não à prisão, mas ao sistema de saúde, a nova lei tem surtido efeito contrário, superlotando as penitenciárias.

A conclusão é da pesquisa de doutorado defendida pelo sociólogo Marcelo da Silveira Campos e publicada na Biblioteca Digital da Universidade de São Paulo (USP). Não bastasse o fato de a população penitenciária brasileira ter aumentado 77,5% entre 2005 (antes de a lei ser implementada) e 2013, o pesquisador ainda descobriu que, entre os anos de 2004 e 2009, em São Paulo - especificamente nos bairros de Itaquera, na zona leste, e Santa Cecília, no centro -, uma pessoa flagrada portando drogas tinha quatro vezes mais probabilidade de ser incriminada por tráfico do que notificada por uso.

##RECOMENDA##

"Muitas vezes, usuários que deveriam ser enviados, segundo a lei, para unidades de saúde ou assistência social estão sendo deslocados para as prisões", diz Campos, professor adjunto da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), em Mato Grosso do Sul.

De acordo com dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), do Ministério da Justiça, o porcentual de pessoas incriminadas por uso ou tráfico de drogas era de 13% em relação a toda população carcerária brasileira. Em 2014, subiu para 27%.

Uma das justificativas para o efeito reverso da lei é o que Campos chama de "centralidade da pena de prisão", isto é, a detenção segue sendo a opção mais recorrente dos agentes judiciais, como policiais, promotores e juízes. "Ainda é preciso convencer o sistema de justiça criminal brasileiro de que existem outras alternativas", diz.

Outro motivo importante da "inversão", segundo o autor da pesquisa, é a própria lei. A norma não é clara quanto a um parâmetro que defina, em função da quantidade de drogas, quem se enquadra como traficante e quem pode ser considerado apenas usuário. O artigo 28 estabelece que, para determinar se a droga estava destinada a consumo pessoal, o juiz deve levar em conta, além da natureza e da quantidade da substância, as "circunstâncias sociais e pessoais" do agente, assim como sua conduta e seus antecedentes. "Isso é um grande problema, pois é um critério muito subjetivo", afirma.

Supremo

Este foi um argumento usado pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para votar, enquanto relator, pela inconstitucionalidade da lei, em agosto deste ano. "O sistema repressivo passa a funcionar de acordo com o que o policial relatar no auto de flagrante, já que a sua palavra será, na maioria das vezes, a única prova contra o acusado. Não se está aqui a afirmar que a palavra de policiais não mereça crédito. O que se critica é deixar exclusivamente com a autoridade policial a definição de quem será levado ao sistema de Justiça como traficante."

Os ministros Edson Fachin e Luis Roberto Barroso também se posicionaram a favor da descriminalização, mas restrita apenas à maconha. Barroso foi além, apontando as quantidades específicas de posse de maconha. O julgamento, porém, está suspenso no STF até que o ministro Teori Zavascki, que pediu vista dos autos, devolva o projeto e revele seu voto.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Um veículo em que caberiam 80 pessoas, estava com aproximadamente o dobro da capacidade, segundo o relato de Guilherme Ataíde Jordão. No Facebook, Guilherme descreveu uma situação inusitada vivida pelos passageiros da linha Rio Doce/CDU, no fim da tarde desta terça-feira (1º), no bairro da Torre, Zona Norte do Recife. Segundo Guilherme, que passava de bicicleta pelo local no momento, de tão lotado que o ônibus estava, o coletivo não conseguiu subir a Ponte da Torre, e fez-se necessário que os passageiros descessem do coletivo para que o peso fosse aliviado e o motorista conseguisse seguir caminho pelo asfalto. 

Na publicação, ele conta que os passageiros comemoraram com palmas e gritos quando o transporte público conseguiu seguir caminho. “A briga agora era pra ‘resgatar o lugar sentado’, pote de ouro de quem vai ficar algumas horas até o destino final preso no trânsito”, escreveu.

##RECOMENDA##

O Grande Recife Consórcio de Transporte informou que o ônibus não conseguiu subir a Ponte da Torre devido a um problema mecânico e que o veículo foi recolhido a garagem para ser submetido a uma vistoria.

A Mobibrasil, empresa que opera a linha Rio Doce/CDU, informou que o episódio foi ocasional, provocado por um problema no sensor elétrico que controla a rotação do motor e em consequência a força. O motorista ao perceber o carro sem “força” solicitou aos passageiros que descessem do veículo, entrou em contato com a manutenção da empresa que o orientou sobre como proceder para destravar o sensor. Após conseguir manobrar, o motorista solicitou o embarque dos passageiros e seguiu viagem.

Confira o texto da postagem no Facebook na íntegra:

"Esse ônibus (Rio Doce/CDU), de tão cheio, não conseguiu subir a Ponte da Torre, deixando atrás de si, dentre outras coisas, um rastro de engarrafamento, muitas buzinas de motoristas impacientes e um grupo de orientadores de trânsito para acalmá-los.

Os passageiros, que desembarcaram para diminuir o peso, comemoraram com palmas e gritinhos quando, vazio, o ônibus conseguiu seguir caminho. 

A briga agora era pra "resgatar o lugar sentado", pote de ouro de quem vai ficar algumas horas até o destino final preso no trânsito.

O Prefeito fo Recife, que mora numas das torres ao fundo da foto, não apareceu."

A superlotação dos presídios brasileiros e as políticas públicas de ressocialização serão temas de debate do Júri do Núcleo de Prática Jurídica da UNINASSAU - Centro Universitário Maurício de Nassau. O evento será realizado no dia 29 deste mês, das 16h às 18h. Segundo a instituição de ensino, a Colônia Penal Feminina de Abreu e Lima (CPFAL) será tomada como exemplo durante o encontro.

O gerente prisional da Secretaria Executiva de Ressocialização de Pernambuco (Seres-PE), Valdir Carneiro Moreira Filho, é o convidado que participará do debate. De acordo com a UNINASSAU, durante o evento serão apresentadas estatísticas da população carcerária no Estado, com o objetivo de discutir propostas de soluções para os problemas atuais dos presídios locais.

##RECOMENDA##

As inscrições para o debate podem ser feitas de segunda à sexta-feira, no horário das 8h às 20h, no Núcleo de Prática Jurídica. Os interessados deverão entregar um produto de higiene pessoal, que será doado para internas da CPFAL. O Núcleo fica na Rua Joaquim Nabuco, 547, no bairro das Graças, no Recife.

Após a Human Rights Watch (HRW) [organização não governamental com sede nos Estados Unidos] classificar o sistema penitenciário de Pernambuco como o pior do país, a Ordem dos Advogados do Brasil no Estado (OAB-PE) solicitou uma inspeção judicial nos presídios locais.

 “O resultado das vistorias que fizemos nas unidades prisionais do Estado, em 2014, aponta a superpopulação carcerária como a raiz de vários outros problemas”, advertiu o presidente da OAB-PE, Pedro Henrique Reynaldo Alves. “Por isto, infelizmente, não nos causa espanto o documento agora divulgado pela HRW”, enfatizou.

##RECOMENDA##

Ainda conforme Pedro Henrique, as vistorias constataram uma superpopulação média de cinco vezes mais que a capacidade instalada de reeducandos; deficiências imensas; higiene precária; odor insuportável nos pavilhões; e presos em espaços que não dariam cinco pessoas, convivendo com 25, 30”.

"São presos que esperam julgamento há anos que, juntamente com os já apenados, se aglomeram em espaços mínimos, onde faltam condições básicas de higiene e, consequentemente, de saúde e segurança", complementou Pedro Henrique.

A OAB ajuizou Ação Civil Pública em face do Estado de Pernambuco, pugnando por reformas e medidas imediatas, como a contratação de agentes penitenciários, instalação de unidades médicas, distribuição seletiva dos encarcerados por grau de periculosidade, separação dos presos provisórios dos apensos, além da construção de novas unidades penitenciárias.

Com informações da assessoria

O Conselho Regional de Medicina (Cremepe) e o Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) fiscalizaram, na tarde desta sexta-feira (21), a emergência cardiológica do Hospital Agamenon Magalhães (HAM), no bairro de Casa Amarela, Zona Norte do Recife, e relataram superlotação de pacientes no local. Segundo os representantes dos órgãos que foram à unidade de saúde, as denúncias foram feitas por médicos que trabalham no local, devido ao excesso de pessoas e a precariedade de atendimento no espaço. 

De acordo com informações após a vistoria, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) coronária o número de leitos foi reduzido. Outra problemática pontuada é em relação à equipe médica porque no local não há evolucionista nos finais de semana para atender e evoluir os pacientes internados. A ausência desses profissionais vai de encontro à resolução do Cremepe nº 12/2014. No documento, é “vedado ao médico plantonista ausentar-se de seu plantão para exercer cumulativamente a função de evolucionista ou qualquer atendimento de intercorrência que não no âmbito da emergência”.

##RECOMENDA##

De acordo com o vice-presidente do Simepe, Tadeu Calheiros, a superlotação acomete outros problemas como, por exemplo, a sobrecarga e condições inadequadas de trabalho. Depois da vistoria foi elaborado um relatório de fiscalização que será encaminhado à Secretaria de Saúde para tomar as medidas necessárias. 

Dados relatados – Segundo informações repassadas pelo Cremepe e pelo Simepe os números de leitos não comportam a quantidade de pacientes: Sala vermelha/amarela: 18 leitos com 26 pacientes internados, sendo cinco entubados. Sala de observação: sete leitos com 9 pacientes internados, área utilizada para internação: 13 leitos com 18 pacientes internados.

Depois de o secretário de Justiça e Direitos Humanos, Pedro Eurico, anunciar nesta semana que o Estado tomará à frente da construção do Centro Integrado de Ressocialização de Itaquitinga, na Mata Norte de Pernambuco, a 72 Km do Recife, o governador Paulo Câmara (PSB) garantiu que o projeto será prioridade. O socialista frisou a problemática das superlotações dos espaços prisionais e disse que o equipamento público poderá ser uma solução. Antes, a obra estava sendo conduzida através de uma PPP. 

Segundo Câmara, o governo estadual está esperando, apenas, que o processo de caducidade seja completado. “Vamos esperar o processo de caducidade, isso é necessário e fundamental”, explicou, enfatizando ter condições para tocar o projeto. “Agora, esse é um entendimento nosso, que a gente tem condições de finalizar aquela obra que está com estágio bastante avançado e vamos ter que priorizar”, prometeu. 

##RECOMENDA##

Indagado de onde irá tirar recursos para o presídio, já que os gastos estaduais estão em contingenciamento em virtude da crise, o socialista enfatizou que a obra é prioridade. “As questões de recursos estão realmente com muitas dificuldades, mas essa questão prisional vocês estão acompanhando deste o início de governo, ela é uma questão de prioridade e o que é prioridade a gente tem que ver a forma de atender, porque essa questão da superlotação dos nossos estabelecimentos é um fato que eu preciso resolver. Itaquitinga é uma das soluções que a gente está estudando para dar resolução da questão”, reforçou. 

Um novo secretário acaba de assumir a responsabilidade pelo sistema prisional pernambucano. Já é o terceiro indicado em menos de um ano. Quais os problemas ele vai enfrentar? O que acontece dentro dos presídios? Eles ressocializam? E fora dele, há oportunidade para recomeço? Qual a solução para acabar com a superlotação? Pena de morte? O sistema aguenta a redução da maioridade? Mais presídios ou melhoria dos já existentes? Onde seriam os novos? Neste especial, o LeiaJá tenta ajudar o leitor a entender melhor como funcionam as unidades prisionais e o que envolve a reclusão, com dados exclusivos sobre a opinião do recifense a respeito dos presídios e dos presos.

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando