Aproveitando que neste dia 18/10 tivemos o encerramento do período do Edital de Seleção de Mestrado e Doutorado 2012 do Programa de Pós-Graduação do CIn-UFPE, conflitos de interesse entre alunos e professores, ou melhor, orientandos e orientadores ressurgem.
É fato que estamos enfrentando uma era de mudanças intelectuais muito fortes em relação aos métodos, processos e tecnologias educacionais e educativas. E sempre me encontro em debates com diversos alunos, professores, profissionais da indústria, empresários e demais interessados no assunto sobre qual o papel do aluno e do professor na escola/universidade nos dias de hoje.
Este artigo é uma republicação de um post em um blog e que gerou muita reflexão.
Bem, desde que mergulhei de cabeça na profissão de professor universitário, eu tenho me surpreendido com muitas coisas.
Exemplos positivos não faltam. Já vi muito aluno que tinha tudo para se perder pelos caminhos da vida, e escolheu seguir um caminho nobre. Minha experiência no projeto NAVE (Facebook page) me colocou frente a uma série de pessoas muito especiais e com muita força de vontade, e que até hoje me surpreendem com ótimas notícias e feitos alcançados.
Infelizmente, de maneira quase que monumental, as surpresas negativas também me surpreendem… ainda mais após a oportunidade de trabalhar no NAVE. Para quem não conhece ou nunca ouviu falar, NAVE (Núcleo Avançado em Educação), abro um parêntese para falar sobre ele. NAVE é um projeto do Instituto Oi Futuro que tem como um dos parceiros o CESAR, na vertical de desenvolvimento de jogos digitais. O NAVE existe no Rio de Janeiro e em Recife, e roda em parceria também com as secretarias de educação deste estados. Isto significa que o projeto acontece em escolas públicas. No Rio é no Colégio Estadual José Leite Lopes (na Tijuca) e em Recife o Centro de Ensino Experimental Cícero Dias (em Boa Viagem). Passe lá e faça uma visita e assim como eu, se espante e sinta uma inveja por sua escola não ter sido assim! Fecha parênteses.
Mas o que o NAVE e seus alunos tem a ver com esse artigo? Tem tudo a ver… principalmente pelo título desse artigo.
Umas das principais preocupações no NAVE era de formar cidadãos e profissionais capacitados para o mercado. Um mercado mutável a tal ponto, que todo ano temos que avaliar o que aconteceu no curso em si, o que temos a melhorar o que tem de novo (na literatura e no mercado) que merece ser abordado. E nós conseguimos fazer isso incutindo nos educandos a importância da pró-atividade no processo de aprendizagem… ou seja, não basta o conhecimento chegar até você, é mandatório que você busque o conhecimento também!
O que quero dizer com isso? Que não basta ter um professor/tutor/blog que procura te ensinar alguma coisa como, por exemplo, Cultura de Jogos Digitais e você ir tentar aprender esse troço porque alguém comentou que era legal ou porque está no seu currículo escolar. É importante que você entenda a importância dos tópicos tratados no ecossistema do curso ou mais ainda na sua área de formação!
O mesmo se aplica a qualquer outra disciplina de computação como [if969] Agoritmos e Estrutura de Dados ou Paradigmas de Linguagens de Programação.
E aí voltamos ao papo que me assusta…. A passividade dos estudantes de computação. É impressionante como cada vez mais me deparo com estudantes, experientes no mercado (algumas vezes), de pós-graduação e muitas vezes até com excelentes notas e que são completamente passivos!
A primeira coisa que aprendi na minha vida de graduando é que nota não quer dizer literalmente nada! Pra mim, o paradigma de provas e notas está falido, na minha humilde opinião… é desestimulante e muito trabalhoso para todas as partes envolvidas… e o que é pior, não é divertido! E este processo se torna pior pela passividade dos estudantes.
O perfil padrão dos estudantes hoje é: o que eu preciso estudar/decorar para passar nessa disciplina. Meu amigo, se você é estudante e está lendo isso, e essa é a sua postura, saiba que você está errado… e muito errado! Eu sei que existem disciplinas que hoje podem até não fazer sentido para o que você faz ou pretende fazer, mas saiba que ela faz sentido sim no seu ecossistema. Tenha certeza absoluta que Física tem tudo a ver com desenvolvimento de jogos digitais! Algoritmos de ordenação tem tudo a ver com sistemas de informação! E os exemplos não param.
Não fique esperando que professor apareça na aula com 87 slides com TUDO que você precisa ler/ver sobre o tópico da aula… os slides são ponteiros… e o professor não é uma enciclopédia.. ele é um pastor, para te guiar no caminho do aprendizado… ele não sabe tudo de tudo, mas sabe a direção que você deve seguir.
Essa abordagem de “não vou estudar Scala porque não cai na prova de nenhuma disciplina” e “eu queria fazer alguma aplicação para rodar na nuvem e ganhar dinheiro com isso” não combina! Não estude só o que o professor diz que vai cair na prova… estude tudo o que estiver acontecendo ao seu lado ou do outro lado do mundo… conhecimento é uma coisa que ninguém tira de você, e quanto mais você sabe, mais você vale (desde que saiba usar tudo isso de maneira eficiente). Esqueça por um momento essa discussão de reserva de mercado por meio de seja lá o que for (regulamentação da profissão, lei da mordaça, regime ditatorial dos profissionais de TI, etc etc etc). O que vai garantir seu espaço no mercado, seja ele qual for, é a sua raridade em relação ao mercado. Se você faz a mesma coisa que 100k pessoas, porque você merece um aumento? Ou ainda, porque VOCÊ merece estar no mercado!?
Agora… pior do que o estudante que só estuda/decora o que vai cair na prova, é o estudante de mestrado/doutorado que fica na dependência do orientador sentar com ele, e dizer exatamente, tim-tim por tim-tim o que ele vai fazer. Um candidato a mestre/doutor, pelo menos em Ciência da Computação, deve ser capaz de tomar decisões e ser auto-gerenciável. A procrastinação é um problema com o qual estes candidatos devem conviver/lutar durante todo o seu período de incubação… ate o dia da defesa. E não é fácil. Mas pior do que a procrastinação, é o complexo de TCC que ataca muitos deles. Complexo de TCC é essa passividade que ataca estas pessoas que muitas vezes são altamente competentes e capazes, mas que tem preguiça de pensar e de agir, e fica na expectativa se fazer qualquer coisa perto do final da sua pós, contando com o bom coração do orientador para que o seu “trabalho” seja empurrado garganta abaixo de toda um ecossistema (banca, professores envolvidos, colegiado, programa da pós, etc) ou o que é pior… pensar que seu orientador vai sentar e fazer parte do seu trabalho.
Tudo isso acontece, na minha opinião, pela facilidade com que essa geração digital consegue as coisas… o reuso de conhecimento (e de artefatos de conhecimento, vamos chamar assim) aconteceu durante toda a vida educacional de muitos destes estudantes… o famoso copy/paste foi usado indiscriminadamente durante trabalhos e trabalhos, corrompendo o processo de aprendizado desse povo.
Mas não se desespere, ainda há salvação. Basta mudar uma coisinha simples na sua vida. Saia da passividade! Coloque como meta, semestral que seja, aprender alguma coisa que você não vai ver na sala de aula. Não foque em ferramentas… ferramentas vão e vem. Procure por coisas mais sólidas! Não basta aprender Scala (citada lá em cima), aprenda (ou re-aprenda) o paradigma funcional de programação! Não aprenda a simplesmente usar um banco de dados NoSQL, mas saiba o conceito por detrás e quais são os cenários onde isso se enquadra. Saia do marasmo! Não é simples… mas uma vez que você dê o primeiro passo, tudo se torna mais fácil e divertido. O retorno é garantido.
Além disso, existem muitas pessoas trabalhando em abordagens para facilitar esse tipo de processo de aprendizagem contínuo. Uma das que eu mais gosto é a Gamification, que visa aplicar o conceito de games em cenários “non-game” para aumentar o compromisso e lealdade da audiência no assunto tratado, e principalmente a diversão!
Artigo escrito por Vinicius Cardoso Garcia - @vinicius3w