Tópicos | Crônicas

Mais de 100 atrações literárias movimentarão a cidade entre os dias 4 e 11 de novembro, na 19ª edição da campanha Paixão de Ler. Com programação inteiramente gratuita e atrações distribuídas por vários bairros, o evento da Secretaria Municipal de Cultura tem como objetivo incentivar o acesso da população aos livros, às bibliotecas e a outros espaços onde ocorram atividades relacionadas com a literatura.

Este ano, a iniciativa homenageia a própria cidade, com o tema Crônicas do Rio e a proposta de uma discussão sobre o papel desse gênero literário nos dias de hoje. “A crônica é um gênero que nasceu e cresceu no Rio de Janeiro, contribuindo para a sua construção simbólica”, diz a coordenadora de Livro e Leitura da secretaria, Leda Fonseca, organizadora da campanha. Segundo Leda, o evento procura enfatizar a importância da leitura como instrumento de formação do cidadão. “Queremos fortalecer o sonho de um Rio literário.”

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A campanha será aberta na próxima sexta-feira (4), às 19h, no Auditório Machado de Assis da Biblioteca Nacional, no centro do Rio, com uma palestra dos cronistas Zuenir Ventura e Antonio Prata, mediada pelo escritor e professor Paulo Roberto Pires. Ator, escritor, letrista e também cronista da cidade, Mario Lago, que este ano faria 100 anos, será homenageado com apresentações do cantor Marcos Sacramento nas bibliotecas municipais. No repertório, canções com letras de autoria de Mario Lago.

No Parque das Ruínas, em Santa Teresa, será encenado no dia 6, às 16h, um espetáculo com textos dos escritores Machado de Assis, Lima Barreto e João do Rio. Às 18h, no mesmo local, o diretor teatral e ator Marcus Alvisi lerá as crônicas de João do Rio que integram o espetáculo Dentro da Noite, no qual é dirigido pelo cantor Ney Matogrosso.

A campanha Paixão de Ler é realizada anualmente e faz parte da política de incentivo à leitura da Secretaria Municipal de Cultura. Também fazem parte dessa política os projetos Ciranda de Histórias, Circuito Jovem de Leitura e Tardes Culturais, desenvolvidos ao longo do ano e voltados tanto para adultos quanto para jovens e adolescentes.

Nas terças e quintas-feiras, a coluna Redor da Prosa traz algo bem mais valioso do que meus escritos. São textos literários ou teóricos – vozes tiradas dessas estantes que, assim como seu dono, quase não dormem. Nesta, Umberto Eco e os limites da interpretação nos textos literários:

“A leitura das obras literárias nos obriga a um exercício de fidelidade e de respeito na liberdade de interpretação. Há uma perigosa heresia crítica, típica de nossos dias, para a qual de uma obra literária pode-se fazer o que se queira, nelas lendo aquilo que nossos mais incontroláveis impulsos nos sugerirem. Não é verdade. As obras literárias nos convidam à liberdade de interpretação, pois propõem um discurso de muitos planos de leitura e nos colocam diante das ambiguidades e da linguagem e da vida. Mas para poder seguir neste jogo, no qual cada geração lê as obras literárias de modo diverso, é preciso ser movido por um profundo respeito para com aquela que eu, alhures, chamei de intenção do texto”.

“Há pessoas que negam que Jesus fosse filho de Deus, outras que põem em dúvida até mesmo a sua existência histórica, outras que sustentam que ele é o Caminho, a Verdade e a Vida, outras mais consideram que o Messias ainda está por vir, e nós, de qualquer forma, tratamos tais opiniões com respeito. Mas ninguém tratará com respeito quem afirma que Hamlet desposou Ofélia ou que o Super-Homem não é Clark Kent”.

“Se há algo a ser interpretado, a interpretação deve falar de algo que deve ser encontrado em algum lugar, e de certa forma respeitado”.

Os dois primeiros trechos estão em Sobre a Literatura (Record, 2003), páginas 12 e 13. A terceira citação é do livro Interpretação e superinterpretação (Martins Fontes, 2005), páginas 50 e 51.

Nas segundas-feiras, a coluna Redor da Prosa traz crônicas, que não devem ser lidas por gente séria demais, sob hipótese alguma.

Depois de ouvir um amigo taxista dizendo que deseja morrer de infarto, à noite, quando estiver no décimo sono, lembrei do escritor Fausto Wolff. Na primeira vez em que liguei, para marcar entrevista, perguntei se atrapalhava algo, porque a voz do outro lado era baixo profundo saindo da hibernação.

– Você me acordou, mas fez bem, que esse cochilo tava ficando longo. Rapaz, quando a gente vai ficando velho, fica é feliz toda vez que desperta. E não sou desses que querem morrer dormindo. Não mais. Quando Ela chegar, não vai me pegar roncando.

Desconheço se morreu dormindo, menos ainda se roncava. Mas suspeito que eu possa ter colaborado com seu passamento. Ou será coincidência?

Tenho um romance guardado há dez anos, cuja segunda parte mudei doze vezes, antes de deletá-la. O prefácio também sumiu. Depois voltou. Mas importante mesmo é que pedi a duas pessoas para lerem o livro e, se possível, escreverem uma apresentação: Fausto Wolff e Moacir C. Lopes.

Preciso dizer que eles aceitaram? Que eles já morreram, encantaram-se, é necessário lembrar também?

Foram autores que entrevistei porque responsáveis por duas das melhores leituras que tive, entre romancistas brasileiros: À mão esquerda e A ostra e o vento. Duas das pessoas mais gentis que conheci, dentro da intimidade que ligações e mensagens eletrônicas podem oferecer.

Guardei outros escritos, poemas que fiz entre 1991 e 1994, moleque ainda. Aliás, eles foram salvos mesmo foi pela minha avó paterna, Edite, que também arriscava versos. Não fosse por respeito a ela, que me devolveu os cadernos pouco antes de morrer (ops), decerto eu teria me livrado deles.

Mário Hélio e Bruno Piffardini leram e acharam melhor não se pronunciarem. Everardo Norões defendeu que sejam trabalhados, muito, sugeriu caminhos. Pedro Américo gostou, com ressalvas. Quem se entusiasmou realmente foi Luiz Carlos Monteiro, querido poeta e crítico. Ele até prometeu escrever algo sobre essa minha verde poesia. Foi aí que, vocês sabem... Perdemos LC faz pouco.

O editor do portal onde publico esta coluna Redor da Prosa, o jornalista Diogo Monteiro, foi único que leu o romance e os versos. Como jamais se comprometeu, não jurou prefácio ou apresentação, segue vivinho – no máximo, causei-lhe queda de cabelo.

Dia desses, mediei mesa de Contardo Calligaris no Festival Recifense de Literatura. Ele contou das duas vezes em que cursava pós quando o orientador morreu. Creio que um desses foi Barthes. Mas, diferente de mim, ele não anda encasquetado com tais coincidências. Contardo também repetiu aquela frase, que “nossa história não deixa de ser a ficção que escolhemos como realidade”. De repente, escolheu não se culpar.

Nesse embalo, até imaginei uma personagem: crítico literário tardio que, após meia dúzia de notícias ruins, nota que os autores sobre os quais escreve terminam espichados. Se eu conseguir terminar logo esta coluna, posso começar a rascunhar, hoje ainda.

Como negócio mais acertado é citar somente escritores reais, vou começar pelo... Aquele, como é mesmo o nome? Que apareceu há pouco no programa do Jô, e que falou quase nada, mal conseguiu mostrar a capa do livro... É tão difícil assim? Se o citado apresentar algum problema de saúde repentino, prometo não acusá-los de cúmplices. Ah, lembrei...

Nas segundas-feiras, a coluna Redor da Prosa traz crônicas, que não devem ser lidas por gente séria demais, sob hipótese alguma.

Quero convencer ninguém a fazer o mesmo, mas comprarei Harry Potter para meus filhos (o casal que não ainda não veio). Razões para isso? Tenho aqui umas 321. O espaço da coluna Redor da Prosa, porém, obriga a listar somente dez. Então, preparem as pedras e tomates:

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1. Logo logo a saga estará baratinha nos sebos, com nota de vinte reais conseguirei completa (nem sei direito quantas histórias são). Aí, precisarei arranjar espaço na estante, que já está pelas tampas. Que se cuidem o Casimiro de Abreu e o Truman Capote que ainda tenho por aqui.

2. Não vou dizer para eles que é ruim, pois nunca li.

3. Tem quem leu e escreveu sobre. Nunca encontrei, contudo, uma só crítica decente, que me convencesse a proibir meus futuros pimpolhos de lerem o bruxinho criado pela J. K. Rowling. Ou nem são críticas, são pitacos sem argumentação alguma; ou julgam as obras como se escritas para apaixonados por Goethe, Machado de Assis e Joyce; ou apontam as mesmas deficiências (será que são?) que encontro aos montes em livros infanto-juvenis de autores brasileiros respeitadíssimos.

4. Se algum dia esses críticos fizerem minha cabeça, provarem que Potter é uma porcaria, posso até não estimular, mas também não vetarei, que esse negócio de censurar não é comigo. E os livros continuarão na estante. Se eu jogasse fora, eles provavelmente pegariam dinheiro meu escondido para comprar de novo, seria prejuízo em dobro.

5. Vi os filmes. E, embora não tenha achado nenhum deles maravilhoso, melhoraram episódio após episódio. Respeito muito franquias em que as continuações não ficam piores. Quantos conseguem isso? O Poderoso Chefão II, Exterminador do Futuro II, Tropa de Elite II? Hum... Em qual desses, incluindo a saga Harry Potter, morre mais gente?

6. Não engulo essa de que Harry Potter não forma leitores, que maioria das crianças que leem obras assim não se tornam adultos amantes de literatura. Porque isso acontece de qualquer modo, é natural, sejam elas iniciadas com Rowling, Monteiro Lobato ou Machado. Nem todo filho matriculado na natação vira nadador, nem todo menino que aprende a tocar um instrumento vira músico, não é todo garoto que joga futebol na várzea que vira profissional. Por quais latas d’água moleque que lê é obrigado a continuar lendo depois, se não for seu desejo? Cabe aos pais estimulá-los às descobertas, sem cobrar que façam de cada novidade um contrato de adesão.

7. Acho aquela menina arretada, a Hermione, bruxinha amiga do Potter. Parece-me até mais interessante do que o protagonista. É inteligente, briguenta, não se submete aos meninos da escola, não repete o clichê de ficar com o herói no final, nem morre (opa, contei muita coisa?). Associações feministas deviam ficar de olho nessa garota-propaganda.

8. Se meus filhos terminarem Harry Potter, acho que os convenço a lerem também O senhor dos anéis. Este eu li, gosto e dou a cara a tapa. Se quiserem, escrevo crônica sobre como é bom. Se acharem a ideia péssima, aí eu me empolgo mais ainda.

9. Não simpatizo com Monteiro Lobato. Raiva, não tenho. Tampouco proibiria de o lerem. Ficarei bem mais feliz, no entanto, se optarem por Harry Potter, O senhor dos anéis, livros de Dickens, Poe e Borges... Ê, beleza! Não gostaram da biblioteca que imaginei para meus filhos? Oras, pai sou eu, e a mãe (que tem a palavra final, óbvio) também aprova. Qual o problema?

10. O editor do portal onde publico essas crônicas disse que textos assim podem até me fazer perder alguns amigos e admiradores, mas fazem sucesso. Então, vou treinando, preciso aprender a escrever coisas que vendam, criar filhos anda pela hora da morte. Portanto, Repello Trouxatum!!!

Nas segundas-feiras, a coluna Redor da Prosa traz crônicas, que não devem ser lidas por gente séria demais, sob hipótese alguma.

A voz do outro lado do telefone era mesmo de um senhor com 76 anos e bocado de desânimo. “Você quer mesmo me entrevistar?”, Moacir C. Lopes perguntou, mas não duvidava realmente que houvesse gente interessada em ouvi-lo. O autor de Maria de cada porto e A ostra e o vento estava era com bala já na agulha, queria usar a oportunidade para descascar a própria mídia.

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Semanas antes, naquele 2003, ele se deu ao trabalho de contabilizar quantas críticas, resenhas e colunas foram dedicadas ao lançamento de Budapeste, de Chico Buarque. “Foram mais de dez textos, isso contando só os três primeiros jornais que li. Não digo que ele é mau escritor, mas essa coisa orquestrada é que não agüento”. E pediu: “Explique direito o que penso, porque, toda vez que falo mal do Chico, devo perder uma dúzia de amigos”.

Lembrei-me dessa conversa em evento recente, no Teatro Hermilo, quando Jomard Muniz de Britto me fez dura reprimenda – como de costume – porque eu havia dito que sou violentamente constrangido se confesso que não gostei de todos os filmes iranianos exibidos no Cinema da Fundação (teve um ou dois muito chatos, de dormir e babar).

E, por causa desta coluna Redor da Prosa, pelo texto publicado, que discute o tal “domínio da narrativa”, clichê repetido sempre que Raimundo Carrero sai com livro novo, umas cinco pessoas me excluíram de suas redes sociais. É uma sopa fria de números; se fico mexendo o caldo, imagino quantos outros desafetos juntei por coisas assim. Quantos, então, ainda posso conquistar?

Porque não gosto do João Bosco. Antigamente, eu tinha abuso quando conseguia entender o que ele cantava. Agora, com as letras todas na internet, agonia é de trincar os dentes. Como nessa música da novela (e não me venha explicar que é ironia, porque sei faz tempo, isso não me alenta): “Minha pedra é ametista / Minha cor, o amarelo / Mas sou sincero / Necessito ir urgente ao dentista”. Há canções dele de que não desgosto. Porém, nada que evite a dor de dente que as outras causam.

Também não sou chegado em Pablo Neruda. Verdade que tem uns versos bons, até porque escrevia em ritmo de mão-de-obra chinesa, algo tinha que se salvar. Quando estou apaixonado, até assomam outros bons sentimentos pelo bardo chileno. Ou seja, esta coluna veio em hora bastante amena.

Quem aí falou em Ferreira Gullar? Pelo poeta, tenho apreço mesmo! Ele escrevendo em prosa, contudo, deixa-me embrulhado. Seus textos saem crescendo como puxadinho, um cômodo torto aqui, outro ali, telhado se estica sem nada proteger direito. Só não me sinto solidário com Augusto de Campos porque sua pendenga com Gullar é coisa além, aonde não meto a colher de chá que são essas minhas crônicas.

Será que sobrou alguma amizade ainda para se desapontar comigo? Alguém para ficar sabendo que não gosto de balé? Na verdade, gosto de dança nenhuma. E tenho argumento não, só total falta de jinga e a mais absoluta ignorância – se um bailarino executa o sissone, não sei se devo ficar contente ou macambúzio.

Não é ódio. Guardo raiva não, jamais. Nem por essa menina que canta em aramaico ou klingon, a Paula Fernandes. De repente, se ela fizesse músicas feito Chico, tocasse violão como o João Bosco, fosse bem intencionada como Neruda, aparecesse menos na TV que o Gullar e se aposentasse cedo como dançarinas de balé...

Tenho algum leitor ainda? Alguém lendo esse finalzinho? Espero que você goste de Guimarães Rosa e Kubrick, senão aí quem corta os laços sou eu. Porque tudo tem limite, convenhamos!

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