Pilotos descumpriram plano de voo e orientações aéreas

Entre os fatores que contribuíram para a queda no jato Cessna 560-XL estão a indisciplina durante o voo e a atitude da tripulação

por Dulce Mesquita ter, 19/01/2016 - 21:46 Atualizado em: ter, 19/01/2016 - 21:57

Sem falar claramente em falha humana como causadora do acidente aéreo que matou o ex-governador Eduardo Campos e mais seis pessoas, a Força Aérea Brasileira concluiu que quatro fatores contribuíram para a ocorrência do acidente. O relatório final foi apresentado na tarde desta terça-feira (19) pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).

No conjunto de fatores está a atitude dos pilotos Marcos Martins e Geraldo Magela, que executaram um perfil de aproximação diferente do previsto, demonstrando uma "falta de aderência aos procedimentos, o que possibilitou o início da sequência de eventos que culminaram com uma aproximação perdida, tendo essa sido, possivelmente, influenciada pelo nível de confiança que o piloto possuía em sua capacidade operacional, haja vista suas experiências".

A indisciplina de voo também contribuiu para a queda, já que sem motivo conhecido, os pilotos desviaram a aeronave para uma rota fora do plano de voo, além de reportar posições diferentes das reais no momento da aproximação da Base Aérea de Santos, ação executada “com parâmetros de velocidade diferentes dos recomendados pelo fabricante da aeronave". Isso reduziu as chances de estabilização.

As condições meteorológicas também foram determinantes, embora "tais condições, por si só, não implicavam riscos à operação, caso o perfil de procedimento fosse seguido de acordo com os parâmetros definidos nas publicações aeronáuticas e de acordo com os parâmetros de voo definidos pelo fabricante da aeronave”.

Para o Cenipa, os pilotos também estavam espacialmente desorientados e tinham condições desfavoráveis, como redução da visibilidade em função das condições meteorológicas, estresse e aumento da carga de trabalho em função da realização da arremetida, falta de treinamento adequado e uma possível perda da consciência situacional. “O elevado ângulo de arfagem negativo, a alta velocidade, e a potência desenvolvida pelos motores no momento do impacto também são evidências compatíveis com a desorientação do tipo incapacitante”, aponta o relatório.

Outros fatores foram levantados durante a investigação, mas para o Cenipa não há como afirmar se eles foram determinantes ou não para o acidente. Nesse contexto estão a pressão de transportar um candidato à Presidência da República, a falta de integração dos pilotos devido ao pouco tempo de vivência entre eles, a fadiga, a falta de treinamento específico para pilotar a aeronave CE 560XLS+, a ausência de análise mais acurada das condições meteorológicas durante o planejamento do voo, erros no recrutamento dos pilotos, a sobrecarga de tarefas para o comandante e a  falta de transmissão das condições de teto e de visibilidade.

O acidente - Na manhã chuvosa do dia 13 de agosto de 2014, a FAB registrou a queda no jato Cessna 560-XL, em Santos, no litoral de São Paulo. A aeronave decolou do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, às 9h21. Já no espaço aéreo de Santos, o piloto tentou pousar na Base Aérea, mas sem visibilidade da pista, arremeteu. Minutos depois, o avião caiu na rua Vahia de Abreu, no bairro do Boqueirão.

As primeiras informações repassadas pela imprensa eram de que se tratava de um helicóptero, mas depois houve a confirmação de que se tratava da aeronave PR-AFA, que transportava Eduardo Campos, o fotógrafo Alexandre Severo, o jornalista Carlos Augusto Percol, o cinegrafista Marcelo Lyra, o assessor da campanha Pedro Valadares Neto e os pilotos Marcos Martins e Geraldo Magela. Todos morreram no acidente.

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