Observatório da Sé tem piso interditado e acervo em risco

Inaugurada em 1890, estrutura astronômica sofre com problemas estruturais, a exemplo de infiltrações danificando o acervo, provocando mau cheiro e limitando a exposição permanente

por Marília Parente qui, 20/07/2023 - 16:14 Atualizado em: qui, 20/07/2023 - 18:24

Paredes com figuras da exposição estão descascadas e escada histórica está suja. (Marília Parente/LeiaJá)

Parte do patrimônio que constitui o Sítio Histórico de Olinda, no Grande Recife, o Observatório Astronômico da Sé está com um de seus três pavimentos interditados. O Espaço Ciência, que administra o equipamento, restringiu o acesso ao local depois que as chuvas registradas no mês passado provocaram uma série de infiltrações nos pavimentos superiores.

No local, a reportagem do LeiaJá observou um cenário de abandono, composto por poças de água no piso, acervo danificado e forte mau cheiro. A escada de ferro fundido instalada em meados de 1900, durante o império de Dom Pedro II, está coberta por uma espessa camada de sujeira, que também inviabiliza o acesso adequado aos andares superiores. 

Assim, a exposição permanente "A Próxima Fronteira", que ocupa os três pavimentos da estrutura, tem sido apresentada aos turistas de forma parcial. Do lado de fora, também é possível observar que a pintura da fachada do prédio não foi concluída. Entre os funcionários do equipamento, há ainda o temor de que os telescópios guardados na estrutura sejam danificados pelas chuvas.

Há uma semana, a advogada Danielly Freire levou seu filho, de quatro anos, para conhecer o Observatório, mas só teve acesso a um terço da exposição. 

"Meu filho tem se interessado por planetas, satélites e telescópios. Pensei que seria legal ele ver um observatório astronômico de perto. Gostamos de ver um telescópio de verdade e receber a explicação das monitoras. Infelizmente, só conseguimos ver o térreo, que tem uma pequena exposição, o resto do espaço estava interditado", conta. 

Na ocasião, em razão das chuvas, os dois andares superiores estavam fechados para visitação. "Acho que, se melhor cuidado pelo poder público, o espaço tem potencial pra ser mais atrativo às crianças, e difundir uma cultura de acesso à ciência e aos estudos astronômicos no geral", completa Danielly.

Trecho alusivo a marte ficou interditado após chuvas. (Marília Parente/LeiaJá)

Termo de cooperação não foi assinado

Há cerca de dois anos, o Governo de Pernambuco enviou à Prefeitura de Olinda um termo de cooperação para administração do Observatório. A gestão municipal, contudo, nunca assinou o documento. Agora, nos bastidores, a expectativa é a de que a Secretaria Estadual de Ciênia Tecnologia e Inovação (SECTI) elabore uma nova proposta.

Por meio de nota, a Prefeitura de Olinda disse que realizou, na semana passada, uma reunião com representantes do Governo. No encontro, ficou decidido que a gestão municipal faria uma vistoria técnica ao Observatório para realizar um "levantamento de todas as necessidades do equipamento e um posterior plano de trabalho, quando serão definidas as intervenções e um cronograma de atividades".

Confira a nota na íntegra:

"Em reunião com representantes do Governo do Estado, na semana passada, ficou definido que a Prefeitura de Olinda fará uma vistoria técnica do Observatório da Sé até a próxima semana para fazer um levantamento de todas as necessidades do equipamento e um posterior plano de trabalho, quando serão definidas as intervenções e um cronograma de atividades. Até lá, ficou acordado que o Espaço Ciência, vinculado à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação de Pernambuco, e que gerencia as atividades no local, tomaria providências para mitigar riscos para os funcionários e visitantes, interditando parte do equipamento e ajustando o horário de funcionamento para o público". 

Importância histórica

Construído em estilo neoclássico, o Observatório Astronômico da Sé foi fundado em 1890, durante o governo de Alexandre José Barbosa Lima. A escolha do local de sua edificação remonta ao perímetro em que o astrônomo francês Emmanuel Liais observou e descreveu o Cometa Olinda, em 26 de fevereiro de 1860.

Dentre os acontecimentos científicos que marcam a estrutura está a importante observação do trânsito de Vênus, em 6 de dezembro de 1882, a primeira missão internacional de ciência básica do Brasil, a qual também contou com postos de observação no Rio de Janeiro, na Ilha de São Tomás (atualmente parte das Ilhas Virgens Americanas) e na cidade de Punta Arenas, no Chile.

Posicionamento

O Espaço Ciência também se posicionou a respeito da denúncia por meio de nota, reproduzida abaixo, na íntegra:

"O Núcleo de Comunicação do Espaço Ciência informa que o Observatório Astronômico do Alto da Sé configura como um ponto de atuação do museu e não como uma instituição inserida na Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia e Inovação, sob o qual ele responde.

O Espaço Ciência reconhece a importância cultural do Observatório e atua em função da valorização desse espaço. É de competência do museu: desenvolver programação inteiramente gratuita com objetivo de divulgação e construção de conhecimentos científicos, exibições e oficinas educativas.

Por fim, o EC realizou uma reunião com representantes da Secretaria de Patrimônio, Cultura e Turismo de Olinda, reafirmando o interesse em manter as atividades no Observatório, bem como de reestruturar o plano de trabalho para o desenvolvimento de medidas.

A partir disso, estamos construindo novas estratégias de parceria técnica com o município de Olinda para manutenção da preservação desse patrimônio, o que representa um dos focos da nova gestão do EC.

Destacamos ainda que o acesso integral aos três pavimentos ocupados pela exposição intitulada “A próxima fronteira” (iniciada em 2010), localizada no interior do Observatório Astronômico do Alto da Sé, encontra-se parcialmente disponível, devido a questões de manutenção. Já os equipamentos destinados à observação astronômica compõem o acervo do EC e são disponibilizados aos visitantes com acompanhamento de monitores da casa."

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI) respondeu por meio do Núcleo de Comunicação do Espaço Ciência, que é gerido pela própria pasta. Apesar disso, o posicionamento oficial não oferece prazos acerca de possíveis intervenções estruturais visando a preservação do Observatório Astronômico da Sé. Confira a nota da SECTI na íntegra:

"O Núcleo de Comunicação do Espaço Ciência informa que o Observatório Astronômico do Alto da Sé configura como um ponto de atuação do museu e não como uma instituição inserida na Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia e Inovação, sob o qual ele responde. O Espaço Ciência reconhece a importância cultural do Observatório e atua em função da valorização desse espaço. É de competência do museu: desenvolver programação inteiramente gratuita com objetivo de divulgação e construção de conhecimentos científicos, exibições e oficinas educativas.

Por fim, o EC realizou uma reunião com representantes da Secretaria de Patrimônio, Cultura e Turismo de Olinda, reafirmando o interesse em manter as atividades no Observatório, bem como de reestruturar o plano de trabalho para o desenvolvimento de medidas A partir disso, estamos construindo novas estratégias de parceria técnica com o município de Olinda para manutenção da preservação desse patrimônio, o que representa um dos focos da nova gestão do EC.

Destacamos ainda que o acesso integral aos três pavimentos ocupados pela exposição intitulada “A próxima fronteira” (iniciada em 2010), localizada no interior do Observatório Astronômico do Alto da Sé, encontra-se parcialmente disponível, devido a questões  de manutenção. Já os equipamentos destinados à observação astronômica compõem o acervo do EC e são disponibilizados aos visitantes com acompanhamento de monitores da casa".

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