Teste para detecção de Zika pode servir para Covid-19

O teste foi elaborado a partir de uma pesquisa da Fiocruz PE em parceria com pesquisadores de outros países

qua, 09/03/2022 - 20:45

Um estudo analisou o uso de biossensores sintéticos em testes rápidos para diagnosticar pacientes infectados com o vírus Zika. A pesquisa foi realizada por estudiosos do Canadá, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O estudo foi desenvolvido na Universidade de Toronto (CA), e teve a validação técnica da equipe da Fiocruz PE, com o uso de amostras de pacientes do Recife. 

A pesquisa proporcionou a realização do desenvolvimento do equipamento “PLUM”, que é um leitor de reconhecimento de patógenos. Considerado de baixo custo, o equipamento tem valor aproximado de R$ 2.506,75. A previsão dos pesquisadores pernambucanos é que o aparelho também possa ser utilizado na detecção da Covid-19.

O pesquisador da Fiocruz em Pernambuco, Lindomar Pena, coordenador da etapa brasileira da pesquisa, salientou a abordagem da técnica utilizada, com redes de genes sintéticos, que não dependem de cultivo em células. “Trata-se de uma tecnologia revolucionária, que por meio dessa iniciativa pudemos incorporar ao conhecimento científico disponível no Brasil”.

O equipamento “PLUM”, que é o leitor de placas com temperatura controlada, portátil e de baixo custo (aproximadamente US$ 500), funciona como um “laboratório em uma caixa” e pode ser utilizado em regiões remotas e com poucos recursos, de acordo com especialistas. 

Como a plataforma é programável, Lindomar disse que pode ser aplicada no reconhecimento de outros patógenos, inclusive o novo coronavírus, o que já é objeto de um novo estudo coordenado por ele mesmo.

O estudo se trata de um dos primeiros ensaios de campo a aplicar biologia sintética no diagnóstico viral em amostras de pacientes. “Mostrar que a plataforma pode ser transportada e detectar de forma precisa o vírus Zika em amostras de pacientes é um significativo passo à frente para a criação de testes mais acessíveis e descentralizados”, diz o professor da Universidade de Toronto, Keith Pardee, líder do projeto, que reúne cientistas de nove laboratórios, em cinco países (Canadá, Estados Unidos, Brasil, Colômbia e Equador).

Um artigo publicado na revista científica “Nature Biomedical Engineering”, na última segunda-feira (7), aponta que a sensibilidade e a especificidade do novo teste foram equivalentes ao PCR em tempo real, que hoje é o padrão ouro para a detecção desse e de outros vírus. Os experimentos mostram que a acurácia dos resultados (ou seja, proximidade de um resultado com o seu valor de referência real) ficou em 98,5%, com um total de 268 amostras de pacientes analisadas.

A equipe da Fiocruz Pernambuco foi escolhida para representar o Brasil nessa parceria por sua expertise demonstrada durante a epidemia de Zika ocorrida em 2015/2016, que se abateu de forma muito intensa sobre Pernambuco. 

A contribuição da instituição nos ensaios de campo dessa pesquisa interinstitucional envolveu os departamentos de Virologia e Terapia Experimental - onde Lindomar Pena atua e foram testadas as amostras de sangue, saliva e urina coletadas em humanos - e de Entomologia - onde a equipe liderada pela pesquisadora Constância Ayres realizou testes com amostras de mosquitos.

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