NE é a única região com aumento da desigualdade em 2019
No Nordeste, a renda da população 1% mais rica cresceu 14,9% enquanto a fatia dos 10% mais pobres sofreu perda de 5%
A concentração de renda per capita, medida pelo índice de Gini, mostrou estabilidade (0,543) no Brasil em 2019 na comparação com o ano anterior (0,545). Houve redução em todas as regiões, com exceção do Nordeste, onde a desigualdade aumento de 0,545 para 0,559. Os dados foram divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira (6).
O índice de Gini varia de zero a um. Quanto mais próximo do zero, melhor é a distribuição de renda do país e quanto mais perto de um, mais desigual é a economia.
“Essa estabilidade do índice de Gini no ano passado, com uma leve tendência de queda, deve-se aos ganhos de renda em praticamente todas as faixas. Os maiores foram registrados nas faixas centrais de distribuição (2,6%) e entre o 1% mais rico (2,7%). Os importantes ganhos das faixas intermediárias equalizaram a distribuição desigual de renda, mantendo-a relativamente estável. O rendimento médio per capita de todas fontes subiu 1,4% e chegou a R$ 1.406 em 2019”, ressaltou a analista da pesquisa, Alessandra Scalioni Brito.
A alta na desigualdade do Nordeste contribuiu com a estabilidade do índice em 2019. “O Sudeste pesa muito no indicador de distribuição de renda. Nessa região, tivemos uma redução importante na concentração de renda (0,533 para 0,527), mas o Nordeste também concentra população, e sua alta desigualdade parece ter pesado, impedindo a redução do Gini nacional. No Nordeste, tivemos uma forte alta na renda da população 1% mais rica (14,9%) e uma perda de rendimentos (-5%) na fatia 10% mais pobre. Isso aumentou a desigualdade na região”, ela complementou.
A concentração de renda registrada em 2019 é a segunda maior desde o ínicio da série histórica, em 2012. Entre 2012 e 2015 houve uma tendência de redução no indicador (de 0,540 para 0,524), que foi revertida a partir de 2016, quando o Gini aumento para 0,537, chegando ao maior valor da série em 2018 (0,545). O melhor resultado (0,524) foi registrado em 2015.
Outro dado que revela a desigualdade no país é a concentração da massa do rendimento médio mensal real domiciliar per capita. Em 2019, ela cresceu para 294,4 bilhões, sendo que a fatia dos 10% mais pobres possuía 0,8% da massa, enquanto os 10% mais ricos concentravam 42,9%. Os rendimentos médios mensais da faixa dos 10% mais ricos superou, inclusive, a proporção detida por 80% da população (41,5%).
A alta concentração de renda per capita também se reflete nos rendimentos de todos os trabalhos. No ano passado, a renda da população 1% mais rica foi 33,7 vezes maior que da metade mais pobre em 2019. Isso significa que a parcela de trabalhadores com a maior renda arrecadou em média R$ 28.659 por mês, enquanto os 50% menos favorecidos ganharam R$ 850. Em 2018, essa relação foi de 33,8.
A pesquisa aponta que aposentadoria e pensão cresceram entre as fontes de rendimento. A maior participação na composição do rendimento médio segue sendo o trabalho (72,5%), seguido por outras fontes (27,5%) e aposentadoria e pensão (20,5%). Também aparecem outros rendimentos (3,4%), aluguel e arrendamento (2,5%) e pensão alimentícia e mesada (1,1%).
"Até 2014 houve aumento da parcela do rendimento de todos os trabalhos no rendimento domiciliar per capita, atingindo 75,2% neste ano. A partir de 2015, aumentou a parcela relativa a outras fontes de rendimento, motivado sobretudo pelo comportamento de alta das aposentadorias e pensões, que alcançou 20,5% em 2018 e 2019", disse Alessandra Brito.
O levantamento também aponta que o número de beneficiários do Bolsa Família segue caindo ano após ano. Em 2019, pessoas que viviam em 13,5% dos domicílios brasileiros receberam os recursos. Em 2012, a porcentagem era de 15,9%.
Entre 2012 e 2019, o Nordeste foi a região que sofreu a maior redução de percentual de domicílios com beneficiários do programa (-6,1%). No ano passado, as regiões Norte e Nordeste tiveram as maiores proporções de domicílios com beneficiários do programa: 25% e 27,6%, respectivamente. A região Sul registrou a menor proporção, 4,7%.
O rendimento mensal per capita dos beneficiários do Bolsa Família subiu de R$ 341 para R$ 352 no ano passado, embora o programa tenha registrado pico de R$ 398 em 2014. “A renda de quem recebe esse benefício é bem menor que o rendimento dos que não são beneficiários do programa (R$ 1.641). Isso mostra que o Bolsa Família de fato é voltado para a parcela mais pobre da população brasileira”, destacou a analista.
Já o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que corresponde a um salário mínimo, foi pago, por mês, a 3,7% das famílias com idosos e deficientes físicos que comprovaram baixa renda em 2019. Isso significa 1,1 ponto percentual acima da proporção de famílias que receberam o benefício em 2012 (2,6%). A renda média dos beneficiários do programa foi de R$ 755, menor que o salário mínimo (R$ 998) em vigor no ano passado.