Polônia vive incerteza sobre as eleições presidenciais

O governo conservador e nacionalista do partido Direito e Justiça (PiS) pretende obter na quinta-feira a autorização do Parlamento para uma votação por correio

ter, 05/05/2020 - 07:55
JANEK SKARZYNSKI Críticos apontam que votar por correio envolve um risco de contaminação por coronavírus JANEK SKARZYNSKI

A poucos dias das eleições presidenciais na Polônia, a princípio programadas para domingo, mas ainda incertas, aumenta a pressão por um adiamento, devido à pandemia de coronavírus.

O governo conservador e nacionalista do partido Direito e Justiça (PiS) pretende obter na quinta-feira a autorização do Parlamento para uma votação por correio. Como alguns parlamentares do próprio PiS, atentos à opinião pública, são contrários à medida, o resultado da votação é considerado incerto.

Apenas 25% dos eleitores desejam a manutenção do pleito em 10 de maio, de acordo com uma pesquisa de opinião recente. Para os analistas, a votação por correio não seria livre, justa, legal, nem isenta de riscos para a saúde pública.

Pesquisas recentes apontam que o presidente Andrzej Duda, do PiS, poderia vencer no primeiro turno com mais de 50% dos votos, o que levaria a oposição a acusar o partido governante de colocar a saúde dos eleitores em risco para assegurar a vitória de seu candidato.

Alguns críticos apontam que votar por correio envolve um risco de contaminação, já que as cédulas devem ser transportadas, preenchidas e contadas manualmente.

Os poloneses estão confinados desde o fim de março, mas podem sair de casa para trabalhar, ou fazer compras. O país registra 14.000 casos de COVID-19, com quase 700 mortos, de uma população de 38 milhões de habitantes.

As restrições às atividades foram levemente flexibilizadas esta semana, com a reabertura de estabelecimentos comerciais e hotéis. Já as escolas permanecem fechadas, e o uso de máscaras é obrigatório.

Organizações internacionais que supervisionam os direitos humanos e as eleições destacaram que introduzir mudanças no código eleitoral pouco antes da votação seria inconstitucional.

Até a influente Igreja Católica, próxima ao PiS, pediu aos partidos políticos que "busquem soluções que não provoquem dúvidas legais, ou suspeitas de violação da ordem constitucional".

Analistas acreditam que, se o PiS for derrotado no Parlamento na quinta-feira, sua maioria, relativamente pequena mas sólida até o momento, pode sofrer um colapso.

E, mesmo em caso de vitória, "seria um milagre" organizar a votação por correio no domingo, destacou o presidente da Comissão Eleitoral Nacional, Sylwester Marciniak.

"É impossível, por razões de organização, entregar cédulas a todos os eleitores", disse. Para a cientista política Anna Materska-Sosnowska, da Universidade de Varsóvia, o PiS, muito pressionado, pode "recuar e buscar uma data posterior".

Sem propor formalmente, o primeiro-ministro Mateusz Morawiecki citou a possibilidade de adiamento para 17 ou 23 de maio. O PiS chegou a defender a ideia de uma reforma constitucional para ampliar o mandato de Duda por dois anos, mas não contava com a maioria qualificada necessária.

Morawiecki rejeitou os pedidos da oposição para introduzir um estado de emergência que adiaria as eleições presidenciais, automaticamente, até o fim da medida.

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