John Travolta e os Embalos do Sábado de Zé Pereira à Noite

Boneco do ídolo da disco é um dos mais queridos de Olinda

por Geraldo de Fraga ter, 16/01/2024 - 08:00
Júlio Gomes/LeiaJá Miniaturas do boneco ginate John Travolta na sede do bloco Júlio Gomes/LeiaJá

No dia 3 de julho de 1978, estreou no Brasil o clássico do cinema Os Embalos de Sábado à Noite, estrelado por Karen Lynn Gorney e John Travolta. O filme fez um enorme sucesso e foi responsável por catapultar a moda da disco music, transformando seu protagonista, Tony Manero, num ícone dos anos 70.

O que talvez nenhum dos envolvidos na produção soubesse era como o filme iria inspirar até o Carnaval de Olinda, cidade distante 6.739 km de Nova York, onde se passa a história de Tony Manero. O fato é que, um ano depois de Os Embalos de Sábado à Noite virar febre no mundo todo, John Travolta virou nome de bloco, boneco gigante e se transformou numa das agremiações mais populares da folia pernambucana.

Na sede da troça carnavalesca mista, no bairro do Varadouro, o presidente Eraldo Gomes relembra o início de tudo. “Na época, final dos anos 70, a discoteca estava estourada e aí veio o filme. Tinha uma danceteria aqui perto de casa e a gente, ainda pequeno, ia encerar o salão para entrar de graça. Mas aí, quando dava 22h, ele colocava as crianças pra fora e só entrava os adultos. Como a gente já curtia Carnaval, um amigo veio com a ideia de juntar as duas coisas. No primeiro desfile, só tinha a gente, eram apenas sete pessoas. No segundo ano, já conseguimos uma orquestra pequena”, conta.

Eraldo Gomes e Paulo Roberto, presidente e diretor do John Travolta

Foto: Júlio Gomes/LeiaJá

O boneco, porém, nunca conseguiu ficar parecido com o famoso ator americano. Deixaram assim mesmo, um Tony Manero versão brasileira, que já tem sua identidade própria. “Na época, a gente queria fazer a fisionomia dele, mas não tinha uma pessoa que conseguisse copiar. Procuramos Silvio Botelho, mas ele estava começando a carreira e não conseguiu”, relembra Eraldo. No momento dessa reportagem, inclusive, o gigante estava em reforma, no ateliê de Botelho, na cidade alta. 

Atualmente, o John Travolta arrasta uma média de 5 mil pessoas pelas ladeiras da cidade alta. O cortejo acontece no Sábado de Zé Pereira, sempre às 20h30, saindo da frente do Clube Vassourinhas, bairro do amparo. Mas como toda agremiação que se preze, o bloco promove outros eventos durante o ano, para engordar os cofres, tem a tradicional prévia e, como não podia deixar de ser, uma festa anos 70, chamada simplesmente de “Os Embalos de Sábado à Noite”.

Boneco John Travolta versão 2024 na oficina de Silvio Botelho

Foto: Júlio Gomes/LeiaJá

Nova geração

Se depender da família de Eraldo Gomes, o gigante seguirá firme nos anos que virão. Um dos diretores é seu sobrinho Paulo Roberto, que explica a relação do bloco com seus parentes. “Desde que eu nasci, meu pai já me levava no braço. Minha mãe, há muitos anos, costura a roupa do John Travolta. Deixou de ser um boneco há muito tempo, a gente já considera um membro da família”, brinca. “É uma luta anual, correndo atrás de parcerias. Mas todo mundo se ajuda, às vezes bota do próprio bolso, o que não pode é o boneco deixar de desfilar”, completa. 

Mas será que o John Travolta ‘original’ sabe que, a quilômetros de distância dos Estados Unidos, seu nome e - mais ou menos - seu rosto dão vida a um bloco de Carnaval no Brasil? “Já tentamos alcançar ele, mandamos e-mail e tudo, mas não recebemos resposta”, se diverte Paulo.

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