Educadora leva jovens da periferia para ver Pantera Negra

Após campanha para arrecadar doações na internet, cerca de cem jovens foram assistir a filme com super-herói negro no cinema do Shopping RioMar

por Eduarda Esteves qui, 22/03/2018 - 14:06

O hall da entrada do cinema ficou lotado. Selfies, brincadeiras e conversas antecederam o momento mais esperado do dia. Nem os olhares curiosos ao redor puderam diminuir a felicidade da garotada. Embora com boa parte do público pertencente à classe média e à classe média alta, o Shopping RioMar, na Zona Sul do Recife, foi tomado pela periferia. Após uma campanha de arrecadação e doações realizada pela internet, cerca de cem adolescentes de escolas públicas e em situação de rua foram, na tarde da quarta-feira (21), assistir ao filme Pantera Negra, em 3D.

Jovens de instituições públicas de Olinda e adolescentes que participam de uma ação desenvolvida pela Fábrica Fazendo Arte no Centro da Juventude, em Santo Amaro, foram ao local em dois ônibus alugados especialmente para a ocasião. Para alguns, ir ao cinema era a realização de um desejo antigo, outros até já tinham assistido um filme nas telonas, mas não no Shopping RioMar. 

A ansiedade da criançada era tanta que até qual seria o lanche despertava curiosidade entre eles. Um empurrão aqui, outra corridinha ali, tudo fazia parte da tarde de diversão. Enfileirados para entrar na sala de cinema, os grupinhos e amigos não dispensaram a velha corridinha para conseguir o assento lado a lado. Com os óculos 3D em mãos e prontos para assitir ao filme, cada dupla teve direito a um balde grande de pipoca e refrigerante. 

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Pantera Negra foi o primeiro super-herói negro – e africano – a ser protagonista nos quadrinhos. Além do sucesso nas bilheterias do mundo inteiro, o longa inspira muitas crianças negras e incita a discussão de problemas vividos na sociedade. É uma celebração à ancestralidade africana. Em uma inversão do que é feito comumente em Hollywood, todos os protagonistas são negros e o primeiro vilão a surgir na trama é branco. A trilha sonora é construída com músicas da África e no no rap de Kendrick Lamar. O longa da Marvel inspira jovens a lutar por igualdade, já que todos podem se sentir reis de Wakanda.

Uma das organizadoras da iniciativa de levar os jovens ao cinema, sem custo algum para eles, é a educadora e produtora cultural Elaine Una. Para ela, a importância de levar as crianças ao shopping é porque além de estarem em um lugar onde tem pouca oportunidade de visitar no cotidiano, assistir a um filme com essa representação política e étnica é uma forma de fortalecer a relação do entendimento de onde vieram e pertencem. “Quando o filme foi lançado, a gente começou uma campanha para angariar doações de valores para os ingressos, principalmente nas redes sociais. O principal foco era trazer ao cinema a juventude da periferia e a garotada de coletivos”, disse.

A escolha do local também foi uma reafirmação política do grupo que realizou a ação social. “Uma das nossas colaboradoras perguntou se preferíamos o cinema do Tacaruna ou do RioMar. Eu falei de primeira que gostaria de estar aqui porque a gente sabe que é um estabelecimento frequentado pela classe média alta do Recife e dizer também que a gente pode estar onde quisermos. Mas quem tem criado essas oportunidade somos nós mesmos. Não é a sociedade meritocrática não. E hoje o shopping da elite pernambucana está ocupado pela periferia”, explicou Elaine.

A ação também recebeu apoio do Quilombo Cultural Casa Coletivo, dos educadores Alexandre Nascimento, Camillo Alvarenga e Karla Fagundes e do Fábrica Fazendo Arte. Além das doações de pessoas físicas, o grupo também recebeu apoio do vereador Ivan Moraes, que de acordo com eles, disponibilizou uma boa quantidade de ingressos. Todo o dinheiro arrecadado serviu para bancar as entradas, o lanche e o transporte de ida e volta.

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